RAILTON'S NOT LIAR

"Compre coisas para uso, não para status. Rejeite aquilo que possa te viciar. Prefira doar a acumular. Recuse deixar-se influenciar pela propaganda. Aprenda apreciar coisas sem possuí-las. Aprecie mais a natureza. Desconfie dos que dizem: 'Compre agora, pague depois!' Quando disser algo, lembre-se dos preceitos de Cristo sobre lisura e honestidade. Rejeite qualquer coisa que provoque opressão em outras pessoas. Evite tudo aquilo que te desvia de teu principal objetivo". [Ética Quacre]

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Local: São Miguel Paulista, São Paulo, Brazil

29.12.06

Ética Quacre

Integridade pessoal

Os Quacres tentam viver padrões elevados de honestidade.

“Em primeiro lugar, queridos irmãos, que o amor e a verdade estejam em vossos corações. Confie nessas coisas como desígnios divinos, como uma luz que ilumina a escuridão trazendo vida”. Advices and Queries, 1964


“É você honesto e verdadeiro em tudo que você diz e faz? Você mantem a integridade estrita em seus negócios particulares e em suas transações com indivíduos e organizações? Você usa o dinheiro e a informação confiada a você com discreção e responsabilidade?” Advices and Queries, 1964


Trabalho e profissão

Eles evitam trabalhar para as companhias que manufaturam armas ou outros produtos prejudiciais (nem investem em tais companhias). Preferem escolher o trabalho que trás benefícios positivos para a comunidade. Mantêm uma integridade estrita em seus negócios e entre as pessoas.

Gênero

Os Quacres sempre trataram igualmente homens e mulheres, e foram os pioneiros no movimento para a igualdade feminina.

Direitos dos animais

Os Quacres se opõem aos esportes cruéis, e não aprovam a exploração de animais, tais como circos ou jardins zoológicos, ou o comércio da pele. Objetam as experiências em animais para finalidades triviais tais como cosméticos, bem como a experimentação animal na pesquisa médica.

“...a respiração e a chama da vida foi dada a todos os animais e criaturas sensitivas, dizer que amamos a Deus... e ao mesmo tempo praticar a crueldade sobre essas criaturas.... é propriamente uma contradição. John Woolman, 1772


Jogo

Não jogam.

Álcool e cigarro

Não são proibidos de usar álcool ou tabaco (embora estas substâncias sejam proibidas nos locais de reunião Quacre), mas a maioria dos Quacres evitam essas coisas, ou as consomem moderadamente. Muitos Quacres exerceram um papel ativo nas associações anti-alcoólicas em meados do século XIX.

Sexo

Os Quacres não fazem julgamentos sobre o sexo, que vêem como um presente de Deus. Sua atenção é focalizada na maneira como é usado no relacionamento humano.

“A atividade sexual não é em si boa nem má; é uma atividade biológica normal que, como a maioria das outras de atividades humanas, pode ser tanto destrutiva como nociva”. Towards a Quaker view of sex, 1963


“Nenhum relacionamento pode ser correto quando usa outra pessoa para satisfazer desejos egoísticos”. Advices, 1964


Homossexualidade

O mesmo pensamento se aplica à atitude Quacre quanto à homossexualidade.

“Um ato que (por exemplo) expresse uma afeição verdadeira entre dois indivíduos e que dê prazer a ambos, não nos parece ser pecaminoso em si só pelo fato de ser homossexual”. Towards a Quaker view of sex, 1963.


“Os Quacres foram uma das primeiras igrejas a falar abertamente sobre sexualidade. Na medida em que procuramos viver nossas vidas respeitando o próximo, desejaremos tratar todas as pessoas igualmente. Acreditamos que a qualidade e a profundidade de um sentimento entre duas pessoas são a parte a mais importante de um relacionamento amoroso, não o gênero ou a orientação sexual”. Encontro Anual em Londres


Aborto

Não há um ponto de vista único sobre o aborto mas consideram-no como uma matéria do consciência pessoal. Filosoficamente não há nenhuma doutrina Quacre sobre quando um feto ou coisa parecida se transforma em pessoa. O movimento tem dificuldade em reconciliar isso com o princípio da não-violência que se posiciona contra o aborto.

Contracepção

Não há um ponto de vista comum sobre a contracepção ser ou não correta. Muitos Quacres usam métodos artificiais de controle de nascimento.

Eutanásia

Não há uma visão única sobre eutanásia. Alguns Quacres exercem seu “livre arbítreo”, argumentando que se se tornarem doentes ao ponto de ser incapazes de viver sem sistemas de sustentação de vida artificiais ou intervenção médica imprópria, não abdicam do direito de morrer naturalmente e com dignidade.

Justiça, política e sociedade

São ativos na política e na luta pela justiça no mundo. Eles acreditam que há uma centelha divina em cada ser humano, e que devem respeitar o valor e a dignidade de cada pessoa, principalmente pelo próprio exemplo da ação social de Cristo.

“Nas igrejas Quacres (sociedade de amigos) esse conceito é repetida e consistentemente expresso: a igualdade fundamental de todos os membros da raça humana. Nossa humanidade comum transcende nossas diferenças.” Meeting for Sufferings' Statement of Intent on Racism, 1988


“O dever da Sociedade de Amigos é ser a voz do oprimido mas também ter consciência de que nós mesmos participamos dessa opressão”. Quaker Faith and Practice


Os Quacres atuaram e atuam nas seguintes áreas:

- Reforma da lei penal
- Reforma prisional – particularmente Elizabeth Fry (1780-1845)
- Redução da pobreza
- Abolição da escravatura
- Direitos das mulheres
- Anti-racismo
- Direitos humanos
- Muitas outras campanhas, além de se destacarem em muitas obras sociais.


Juramento

Não juram em tribunais (nem em qualquer outra instância) simplesmente dão sua palavra.

Meio ambiente

Os Quacres acreditam que os seres humanos são os jardineiros da terra, e devem cuidar dela para assegurar de que cada geração passe à geração seguinte um mundo tão bom ou melhor do que aquele que receberam.

Os Quacres acreditam que a crise ambiental é uma crise espiritual, religiosa e material.

Os Quacres afirmam que as condições ambientais são também uma questão de justiça social: reconhecem que aqueles que vivem na Grâ Bretanha ou nos EUA estão isolados da maior parcela dos efeitos dos problemas ambientais e que tais condições afetam em maior gráu os pobres do mundo.

"O produto da terra é um gracioso presente de nosso Criador aos seus habitantes, e empobrecer a terra em benefício da luxúria constitui um prejuízo às próximas gerações". John Woolman (1710-1772)


“Tentar viver uma vida simples. Um voluntário e simples estilo de vida é uma grande fonte de poder. Não se deixar persuadir a adquirir o que você não necessita e nem tem recursos para comprar. Você se mantem infomado sobre o efeito de seu estilo de vida sobre a economia global e o meio ambiente?” Advices and Queries


Richard J Foster estabeleceu alguns princípios Quacres para viver com simplicidade:

- Compre coisas para seu uso, não para seu status.
- Rejeite qualquer produto que possa te viciar.
- Desenvolva o hábito de doar em vez de acumular.
- Recuse deixar-se influenciar pela propaganda de tranqueiras (interessantes mas inúteis).
- Aprenda a apreciar coisas sem possuí-las.
- Aprofunde sua apreciação da criação divina.
- Tome cuidado com aqueles que dizem: “Compre agora e pague depois”.
- Não esqueça aos preceitos de Cristo sobre lisura e honestidade nas coisas que diz.
- Rejeite qualquer coisa que provoque opressão em outras pessoas.
- Evite tudo aquilo que te desvia de teu principal objetivo.

Pacifismo e violência

Crêem que toda guerra e todo conflito são guerra e conflito contra a vontade de Deus, de forma que se dedicam ao pacifismo e à não violência. De um ponto de vista prático acreditam que o exercício da força sempre cria mais problemas do que soluções.

“Repudiamos totalmente todas as guerras, conflitos e lutas armadas, para qualquer fim ou sob qualquer pretexto, e este é nosso testemunho para todo o mundo”. Quaker statement to King Charles II, 1660


“Um bom fim não santifica um mau meio; o mal nunca deve ser praticado, o bem não pode resultar de uma prática errônea”. William Penn, 1693


“A guerra, no nosso ponto de vista, envolve a rendição do ideal cristão e a negação da fraternidade humana”. London Yearly Meeting, 1916


“Cristo exige que sigamos, sem desviar, seus métodos amorosos, mas se um conflito surgir entre as reivindicações de seu serviço e as do Estado, é a Cristo que nossa lealdade suprema deve ser dada, sejam quais forem suas conseqüências”. London Yearly Meeting, 1915


Muitos objetores de consciência (aqueles que recusam servir nas forças armadas) são Quacres, mas o pacifismo Quacre não é simplesmente a recusa em lutar, inclui um constante ativismo em prol da paz ou de sua preservação, removendo as causas do conflito.

Os Quacres, como outros pacifistas, às vezes são acusados de indiferentes para com os regimes ruins em vez de lutar contra eles. Eles discordam, e dizem que lutam por meios não violentos.

“Todas as formas de resistência não violenta são certamente bem melhores do que o apaziguamento que vem através do exercício da violência e pela rendição à injustiça à custa do sofrimento de outros e não do seu próprio”. Kathleen Lonsdale, 1953


Os Quacres não apenas se opõem à guerra, como também a todas as formas de violência. George Fox foi pessoalmente contra o uso da violência. Ele recusava defender-se quando atacado e muitas vezes dirigiu palavras ou ações amáveis a seus atacantes.

28.12.06

Tabor (1420-1437)


Os habitantes de Tabor se chamavam mutuamente de irmãos e irmãs, e não reconheciam nenhuma diferença entre "teu" e "meu". Os Taboritas ensinavam que "não haveriam reis, nem amos, nem escravos na terra, e que os impostos e as obrigações seriam abolidos". Segundo sua doutrina não haveria qualquer coação, tudo pertenceria a todos, e portanto, diziam, que aquele que possuísse uma propriedade cairia em pecado mortal. Este comunismo, de natureza cristã, era um comunismo de consumo, não de produção. Cada família trabalhava para si mesma, contribuindo com seu excedente à tesouraria geral.

Por D. Riazanov

A execução de Huss em janeiro desencadeou uma revolução na Boêmia. Todas as classes populares boêmias se levantaram contra o poder do Papa, por uma reforma da igreja, contra os alemães, e pela independência nacional. Nesta luta religiosa nacionalista as massas populares revelaram seu ódio social contra a classe dominante. Inicialmente, todas as classes da Boêmia lutaram em uníssono. O lema da luta envolvia a forma da comunhão. Os ritos da Igreja Católica cediam ao leigo apenas pão sagrado, privilegiando os sacerdotes com pão e vinho. As massas se levantaram contra todos os privilégios do clero exigindo igualdade na comunhão: O lema do movimento era "Um cálice para o leigo!" A nobreza se uniu ao movimento usando esta luta para tomar as terras da Igreja; -- o clero possuía cerca de um quarto de todo território do reino. A rica burguesia também viu nas guerras hussitas uma maneira de surrupiar as riquezas do clero e de apossar-se dos bens das cidades católicas alemãs (Kuttenberg, com suas famosas minas de prata, era um forte atrativo).

A nobreza e a rica burguesia boêmia que se uniram ao movimento hussita forjaram o partido moderado dos Calixtinos ou Utraquistos, cuja sede foi a cidade de Praga. Lado a lado com este movimento moderado, no entanto, existia também um núcleo revolucionário. Sua massa era formada por camponeses ansiosos pela posse da terra, especialmente depois da nobreza ter tomado a terra do clero. A classe média baixa das cidades e os proletários juntaram-se aos camponeses e concentraram-se nas cidades menores de Boêmia. Os elementos revolucionários mais tarde começaram a chamar-se como Taboritas que era o nome de seu centro militar e político, a cidade comunalista de Tabor. O movimento husita estava agora sob a direção de um grupo de comunalistas.

Em 1414, o povo expulsou o Rei Wenceslaus para fora de Praga, depois disso, os hereges começaram a migrar para a Boêmia vindos de todas as partes de Europa.

Os Begardos e os Valdenses encontraram na Boêmia um refúgio contra a perseguição. Os comunalistas se fortificaram em Tabor onde começaram sua propaganda. Disseram que o Milênio de Cristo tinha chegado, que ali já não haveria nem servos nem amos, e que o povo regressaria ao estado de inocência priminiva. Em cidades diversas, particularmente em Tabor, os rebeldes começaram a instalar centros comunalistas. A cidade de Tabor estava localizada na vizinhança das minas de ouro. O comércio e a fabricação floresceram ali.

Quando os comunalistas se estabeleceram em Tabor atraíram a grandes multidões. Diz-se que em apenas uma reunião juntaram cerca de 42.000 pessoas (22 de julho de 1419).

Houve entre os Taboritas alguns comunalistas extremados, que não permitiam concessões, e negavam a família. Os "irmãos e irmãs do livre espírito", chamados de adamitas. A maior parte dos habitantes de Tabor e os cavaleiros, sob a liderança de Zizka, empreenderam uma luta contra os adamitas.

A agremiação comunalista taborita foi surpreendentemente bem organizada. Enquanto comunidade militar alarmou aos príncipes alemães por muito tempo. Os Taboritas representaram o primeiro exército regular de que se tem registro, e foram os primeiros em usar artilharia em combate. O fato dos Taboritas pudessem manterem-se firmes durante quase uma geração é atribuído por seu atendimento à educação, pelo ordem e pela disciplina em sua comunidade. Tabor caiu devido, principalmente, a uma cisão entre os hussitas. Os Calixtinos moderados, após tomar a terra do clero, recusaram reconhecer a supremacia de Tabor. A guerra dos Taboritas contra o rei, o Papa, e toda Europa, não era do interesse da nobreza. Depois da vitória dos Taboritas em Tauss (1431), pareceu não haver inimigo capaz de derrotá-los. Apõs começarem as negociações entre os Calixtinos e o inimigo, resolveram convocar em Dieta todos os barões, cavaleiros, e representantes das cidades, para abordar um plano para uma organização estatal. A própria Tabor se viu dividida. A classe média baixa e o campesinado, indiferentes diante do programa comunalista, queriam paz. O comunismo do Tabor não era estável. Por não possuir uma base produção comunalista, a igualdade no modo de vida logo desapareceu. Tabor voltou a ter ricos e pobres.

O exército de Tabor estava permeado de "bandidos e oportunistas de todas as nações". Na medida em que os nobres começaram a recrutar soldados para uma guerra contra Tabor oferecendo condições melhores que a comunidade comunalista, a traição avançou nas bases do exército Taborita, provocando uma deserção massiva. Essa foi a razão da queda de Tabor. Em 30 de maio de 1434 os Taboritas sofreram sua derrota definitiva. Dos 18.000 soldados Taboritas, 13.000 morreram na batalha. Em 1437, viram-se forçados a assinar um tratado com Segismundo, que garantia a independência de Tabor. Era o fim da comunidade comunalista de Tabor.

*obs.: a palavra "comunista" foi traduzida como "comunalista" para evitar confusão com bolchevismo, capitalismo de estado, e suas variantes.

Publicação: Coletivo Periferia -- http//www.geocities.com/projetoperiferia

Autor: D. Riazanov - Nota explicativa das Guerras Camponesas na Alemanha 1847 mencionadas por F. Engels.



Fonte digital: http://www.galeon.com/ateneosant/Ateneo/Historia/arf-husitas.html

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Guerrilheiros taboritas

Tabor, situada na república Checa dos dias de hoje, foi fundada em 1420 pela ala mais radical do Hussitas, que logo ficou conhecida como Taboritas. A cidade tornou-se um ícone pelos anos florescentes enquanto comuna camponesa igualitária.

Mantidos economicamente por seu controle de minas de ouro locais, os cidadãos juntaram camponeses locais para desenvolver uma sociedade comunalista. Anunciaram o Milennium de Cristo e declararam que não mais haveriam servos nem senhores. Prometeram que os povos retornariam a um estado do inocencia pristina.

Os Taboritas

A teologia taborita representou um dos movimentos mais radicais contra a igreja medieval hierárquica. Rejeitaram a hipocrisia da igreja corrupta e insistiram no padrão qualitativo da autoridade biblica. Embora a teologia Taborita fosse baseada na teologia escolástica, foram um dos primeiros intelectuais a livrar-se dos séculos de cativeiro escolástico.

Os Taboritas foram particularmente zelosos em suas práticas religiosas, também de carater comunal. Praticaram uma economia comunalista, compartilhando alimentos e artigos de valor.

Alguns dos teólogos taboritas mais proeminentes foram Mikulas Biskupec de Pelhrimov e Prokop Veliký (morto na batalha de Lipany). As primeiras idéias teologicas radicais dos taboritas foram representadas por Petr Kanis e Martin Huska.

O exército guerilheiro de Tabor foi conduzido por Jan Zizka, general Boêmio cego que comandou seu exército popular contra o exército imperial do Imperador Sigismund.

O poder da comunidade era quebrantado, após vinte anos, com a batalha de Lipany em 30 de maio de 1434. Onde 13.000 dos 18.000 que compunham o exército foram mortos. Em 1437 assinaram um tratado com rei Checo Sigismund.

Fonte digital em inglês: http://www.infoshop.org/wiki/index.php/Past_and_present_anarchist_communities

26.12.06

de Ziska aos habitantes de Tauss



[De Zizka] Ao valente capitão e a todas as vilas de Tista.

Queridos irmãos, Deus queira, pela sua graça, que retornes ao vosso primeiro amor, e que, fazendo boas obras, como verdadeiros filhos de Deus, persistam no seu temor. Se Ele os castigou e puniu, peço-vos em seu nome, não que não vos deixe abater pela aflição. Tenham por conseguinte respeito aos que trabalham para a fé e que sofrem perseguição por parte dos nossos adversários, sobretudo os alemães, os quais demonstram extrema maldade devido ao nome de J.C. Imitem os antigos habitantes da Bohêmia, vossos ancestrais, que perseveraram alertas defendendo a causa de Deus e aos seus.

Nós, meus irmãos, tendo sempre em vista a lei de Deus e o bem da república, devemos ser fortes e vigilantes. É necessário que todo aquele capaz de manipular uma faca, de lançar uma pedra e de elevar uma alavanca (uma barra, uma maça), prontifique-se para marchar. Isso porque, T.C.F., quero informá-los de que montamos por toda parte grupos para combater os inimigos da verdade e os destruidores de nossa nação; e solicito que urgentemente atendam nosso pedido de exortar o povo em seus sermões pela guerra contra o anticristo, para que todos, jovens e velhos, se coloquem à disposição. Desejo que, quando estivermos com vocês, não falte nem pão, [...] nem alimentos, nem rações, e que haja uma boa provisão de armas. Chegou o tempo de se armar não apenas contra os de fora, mas também contra os inimigos domésticos. Recordem de vosso primeiro combate, quando eram poucos contra muitos, sem armas contra pessoas bem armadas. A mão de Deus não se recolheu; sejam firmes e corajosos e estejam prontos.

Que Deus fortaleça vocês.

Ziska, do Calice, pela divina esperança, chefe dos taboritas.

Carta de Jan Ziska(*) aos habitantes de Tauss, distrito de Pilsen, encontrada em 1541, numa casa na cidade de Praga.

fonte digital em francês: http://www.gutenberg.org/files/15584/15584-h/15584-h.htm

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“Façam um tambor com meu couro pela causa Boêmia”.
(*)João Zizka foi um general Checo que, após a execução de João Huss, foi aclamado líder dos cristãos boêmios. Recusou aceitar o Imperador Romano Sigismundo como o rei de Boêmia, mesmo com a oferta da vice-realeza. Zizka travou uma série de batalhas contra o império até, finalmente, ver seu país liberto. Entrou triunfante em Praga em junho de 1424, mas teve pouco tempo para viver seu sucesso. Morreu de peste bubônica no final daquele ano.

Jan Zizka foi um dos quatro capitães do exército guerrilheiro de Tabor, cuja constituição, entre outras coisas, abolia reis, amos, escravos, impostos, a coação e a propriedade privada. Um comunismo ou comunalismo de natureza cristã inspirado em Atos 4:32-33.

25.12.06

Radio livre, social e contra o poder. Transmite desde a UNAM para o sul da Cidade do México. E pela Internet ao Mundo




....tr((A))nsmite a voz da frequencia rebelde desde a Cidade Monstro, a Ké Huelga Radio. Dizemos o que pensamos, o que sentimos, o que desejamos. Construimos uma radio alter_nativa para que as idéias avancem desde uma sociedade onde a informação e as frequencias não sejam um meio de dominação do povo. Exercemos nosso direito natural de livre expressão utilizando as ferramentas que temos a nosso alcance, e para isso, não necessitamos a concessão da sociedade mercantil dominante. Cada ser humano é um mundo e deve ter um meio de manifestar seu existir livremente. Transmitimos na faixa de 102.9 FM, no sul da Cidade Monstro.

Para escutar clica AQUI ou agrega este endereço: http://www.kehuelga.org:8000/radio.mp3

Também podes acessar este servidor de audio fornecido desde Barcelona:
m3u ou
http://stream.r23.cc:2323/kehue lga.mp3

ANUNCIOS

OAXACA: A LutA proSeguE!

Baixe Vozes dos valentes de Oaxaca: texto que recolhe as vozes de nossos compas na luta

Audios do Ato realizado em Oventik, territorio zapatista em solidariedade com Oaxaca e Atenco (22 de dizembro):
Palavras do Comandante David
Palabras de Comandante Hortensia
Palavras da Junta de Bom Governo

Próximas ações por Oaxaca:

O supremo governo e seu capacho URO querem exterminar noss@s irman@s de Oaxaca

A brutal repressão da PPFP (Porca policia federal preventiva) e demais esbirros que a acompanham, a partir de 25 de novembro deixaram como saldo: 5 mortos, 195 detidos (alguns, mui poucos, foram liberados) e pelo menos 25 desaparecidos. A PPFP implantou o estado de sitio em Oaxaca capital, onde grupos fortemtente armados patrulham as ruas e realizam detenções arbitrárias. Se denunciam também torturas físicas e psicológicas, invasões sem ordem judicial, agressões sobretudo contra os jovens, chamados pela radio alcantarilha para matar aos representantes da APPO e a queimar suas casas, tiroteios, órdens de apreensão contra o Conselho Estatal da APPO (mais de 200 pessoas implicadas) e múltiplas provocações, tudo isso encaminado para instalar o terror e impedir as mobilizações populares. Desde estas ondas liberadas, a Ké Huelga envia toda sua solidariedade a noss@s irm@s oaxaquenh@s e sauda a decisão desse povo que não se dobra ante as botas da PPFP. Vai aqui também um grande abraço para @s compas da Radio Universidade que tem aguentado de pé com firmeza (e o coração em chamas) o ataque governamental.

OAXACA NÃO ESTÁ SÓ!

Abaixo a repressão!

Contra a ofensiva da PPFP @s compas da Radio Universidad que foram forçados a entregar as instalações da radio ao Reitor da UABJO. Nos próximos dias haverá um segmento informativo nessas frequencias para difundir as orientações do movimento

Aqui está uma entrevista onde a Doutora Bertha da Radio Universidad esboça a perspectiva do movimento: resistir e auto organizar-se (audio MP3)

VivA OaxacA A RebeldE!: neste espaço vamos juntando os materiais que nos chegam sobre a luta do povo oaxaquenho

Informes úteis: como anular os tanques de água

Toda a informação,favor colocar em http://mexico.indymedia.org

Em casos de desastre (natural, político ou tecnológico) sugerimos estes endereços:

Sitios de emergencia:
Ké Huelga en Espora
Ké Huelga en MSN

Estamos trabalhando para ter um espelho de nosso sitio, se há compas que tenham uns quantos gigas de sobra, por favor avisem! :)

TUDO TUDINHO sobre a Sexta e a Outra Campamha, agora está AQUI

Hip Hop livre e para baixar agora está aqui: CLICA

ConvidAmos a tod@s a escutar nosso espaço semanal de noticias (atualizado toda terça-feira à noite)

Em memoria de Pavel González, brutalmente assassinado em abril de 2004
Aqui uma denúncia e informação sobre o crime.
Palavras de Rosario Ibarra de Piedra, durante a marcha contra o assassinato, 29 de abril de 2004

Nunca mais nossos pensamentos serão calados!!!

Não há luta sem batalha!

...que a beleza seja nossa bandeira...

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Texto acima traduzido pelo Coletivo Periferia
http://not-liar.blogspot.com/
http://coletivoperiferia.cjb.net/
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=24163724
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6038954

fonte digital: http://www.kehuelga.org/

Políticos profissionais acham que o povo é estúpido demais para a autogestão generalizada em uma sociedade livre

Muitas ideologias politicas assumem explícitamente que as pessoas comuns são demasiado estúpidas para serem capazes de gerir suas proprias vidas e sua sociedade. Em todos os ramos da agenda política capitalista, da esquerda à direita, há pessoas que fazem esta afirmação. Tanto os leninistas, como os fabianistas ou objetivistas, acreditam que apenas uns poucos eleitos são inteligentes e criativos e que estas pessoas devem governar aos demais. Geralmente, esse elitismo se esconde atras de uma retórica astuta sobre "liberdade", "democracia" e outros lugares comuns que os ideólogos usam para adormecer o senso crítico das pessoas dizendo o que elas querem ouvir.

Tampouco surpreende, naturalmente, que aqueles que crêem nas elites "naturais" sempre se auto-classifiquem enquanto topo. Não encontramos ainda nenhum "objetivista", por exemplo, que se considere parte da grande massa, dos "segunda categoria", enquanto gari no desconhecido "ideal" do capitalismo "real". Qualquer um deles, ao ler um texto elitista, considerará a si mesmo mais um desses "poucos eleitos".

Um exame da nossa historia demonstra que há uma ideologia elitista básica: a racionalização essencial de todos os estados e clases dominantes desde seu nascimento nos principios da Idade do Bronze. Esta ideologia simplemente muda de roupa, nunca de conteúdo interno básico.

Durante a Alta Idade Media, por exemplo, travestiu-se de cristianismo, adaptando-se às necessidades da hierarquia eclesiástica. O dogma "divinamente revelado" mais útil para a elite sacerdotal foi o do "pecado original": a idéia de que os seres humanos são basicamente criaturas depravadas e incompetentes, que necesitam ser "dirigidos desde cima", que tem os sacerdotes como convenientes e necessarios intermediarios entre os humanos ordinarios e "deus". A ideia de que as pessoas normais e simples são básicamente estúpidas e incapazes de governar a si mesmos é uma herança desta doutrina, é uma relíquia da Idade Média.

Para contestar àqueles que afirmam que a maioria das pessoas não é mais que gente de "segunda categoria", "zé povinho", e incapaz de desenvolver nada além da "conciência sindical", tudo o que podemos dizer é que tal afirmação é um absurdo e que não suporta nem mesmo uma revisão superficial da história, particularmente no que se refere ao movimento operário.

O poder criativo daqueles que lutam por liberdade são muitas vezes verdadeiramente surpreendentes, e se este potencial intelectual e esta inspiração não se evidencia na sociedade "normal", isso constitui a mais clara denúncia dos efeitos adormecedores da hierarquia e do conformismo produzidos pela autoridade.

"Você é o que faz. Se faz um trabalho chato, estúpido, monótono, o mais provavel é que acabe sendo chato, estúpido e monótono. O trabalho é uma explicação bem mais coerente da crescente cretinização que ocorre ao redor de nós do que esses mecanismos estupefacientes tão citados como a televisão e a educação. A pessoa que passa sua vida regimentada, guiada da escola para o trabalho, primeiro enjaulada pela familia e depois no asilo de velhos, está habituada à hierarquia e é psicologicamente escrava. Sua aptidão para a autonomia está tão atrofiada que seu medo à liberdade é uma de suas poucas fobias com fundamento real. Seu treinamento à obediencia no trabalho se transfere às familias que eles formam, reproduzindo desta maneira o sistema em diferentes maneiras, e se transfere à política, à cultura e tudo o mais. Uma vez drenada a vitalidade da pessoa no trabalho, provavelmente se submeterá à hierarquia e à especialização em tudo. Estão acostumados a isso". Indica Bob Black. [The Abolition of Work].

Quando os elitistas concebem a libertação, apenas lhes ocorre que esta seja concedida aos oprimidos por elites benévolas (os leninistas) ou estúpidas (os objetivistas). Não surpreende pois, que fracassem. Unicamente a auto-libertação pode produzir uma sociedade livre. Os efeitos deprimentes e distorcivos da autoridade só podem ser superados pela auto-atividade. Os escassos exemplos de tal auto-libertação provam que a maioria das pessoas, considerada incapaz de ser livre, está muito bem disposta para a luta.

Os que proclamam sua "superioridade" muitas vezes o fazem por medo de que sua autoridade e seu poder seja destruído uma vez que as pessoas se libertem da mão débil da autoridade e chegue a dar-se conta de que, segundo Max Stirner, "os grandes só o são porque estamos de joelhos".

Como aponta Emma Goldman acerca da igualdade das mulheres, "as extraordinarias conquistas das mulheres em todos os aspectos da vida silenciaram para sempre a falácia da inferioridade feminina. Os que ainda se agarram a este fetiche o fazem porque o que mais odeiam é ver sua autoridade entre as pernas. Esta é uma característica de toda autoridade, seja ela do patrão sobre o escravo econômico ou a do homem sobre a mulher. Não obstante, a mulher escapa de sua jaula e segue adiante com passos livres, largos."

Os mesmos comentários podem aplicar-se, por exemplo, aos formidáveis experimentos bem sucedidos de auto-gestão operária durante a Revolução Espanhola. Citando Rousseau: "quando vejo multidões de selvagens totalmente desnudos depreciar a voluptuosidade européia e suportar fome, fogo, espada e morte unicamente para preservar sua independencia, penso que não cabe a escravos discorrer sobre a liberdade" [citado por Noam Chomsky, Red and Black Revolution, número 2].

http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secA2.htm
http://www.kehuelga.org/stream.m3u

24.12.06

Nada reivindiquemos, nada peçamos, conquistemos, ocupemos, tornemos nossos desejos realidade

As chamadas frentes, sejam elas "contra o aumento de passagens", "pela ação global dos povos", "de solidariedade à APPO", assim como a velha e capenga "pelas diretas já" muitas vezes se assemelham a um aglomerado de torcidas organizadas, a pessoas separadas e amontoadas em estádios de futebol assistindo performances espetaculares de artistas ou esportistas.

Não pretendo aqui emitir um juizo de valor sobre participantes de manifestações, mas sobre a manifesta separação dos grupos participantes. Quando partidos políticos, sindicatos e entidades ou grupos ligados a tais organizações se reúnem em locais públicos ou privados para reclamar, propor ou modificar leis, na verdade, por mais radicais que possam parecer, nada mais fazem do que reforçar e reafirmar o mesmo sistema que proclamam combater.

Ilustração de João Zizka, retirada de http://www.gutenberg.org/files/15584/15584-h/15584-h.htm

21.12.06

Frases de 68

Ne vous emmerdez plus! Emmerdez les autres! (Nanterre)
(Não se chateiem! Chateiem os outros!)

Savez-vous qu’il existait encore dês chrétiens? (Hall. Gd Amphi. Sorbonne)
(Você sabia que ainda existem uns quantos cretinos?)

Notre espoir ne peut venir que des sans-espoir. (Hall Sciences Po.)
(A nossa esperança não pode vir senão dos desesperados)

J’aime pás écrire sur les murs. (Amphi. Musique. Nanterre)
(Não gosto de escrever nas paredes)

L’agresseur n’est pás celui qui se revolte mais celui qui affirme. (Nanterre)
(O agressor não é aquele que se revolta mas aquele que motiva)

La liberte n’est pás un bien que nous possédions. Elle est un bien que l’on nous a empêché d’acquérir à l’aide des lois, de règlements, dês préjugés, ignorance, etc… (Nanterre)
(A liberdade não é um bem que possuímos. Ela é um bem que nos impedem de adquirir mediante leis, regras, preconceitos, ignorância, etc…)

Quand le doigt montre la lune, l’IMBECILE regarde le doigt. Proverbe chinois. (Conservatoire Musique)
(Quando o dedo aponta a lua, o IMBECIL olha o dedo. Provérbio chinês.)

Les gens qui ont peur seront avec nous si nous restons forts. (Gd Hall Nlle Fac. De Médecine)
(As pessoas que têm medo estarão do nosso lado se nos mantivermos fortes)

Je décrète l’état de bonheur permanent. (Escalier. Sciences Po.)
(Decreto o estado de felicidade permanente)

Etre libré en 1968, c’est participer. (Escalier. Sciences Po.)
(Ser livre em 1968 é participar)

Un homme n’est pas stupide ou intelligent: il est libré ou il n’est pas. (Médecine)
(Um homem não é estúpido ou inteligente: ele é livre ou não é)

Make love not war. (Bâtiment C. 2e ét. Nanterre)
(Faça amor, não guerra)

O sonho é realidade

As reservas impostas ao prazer excitam o prazer de viver sem reservas

Sejamos cruéis!

Tenho algo a dizer, mas não sei o quê

Todo o poder abusa. O poder absoluto abusa absolutamente

Nós somos ratos (talvez) e mordemos.

Não me libertem, eu encarrego-me disso

A poesia está na rua

Vivam sem tempos mortos.

A ação não deve ser uma reação, mas uma criação

Corre camarada, o velho mundo está atrás de ti

Sob a calçada, a praia

A vontade geral contra a vontade do General

A Revolução tem de deixar de ser para existir

Abram o vosso cérebro tantas vezes como a braguilha

E se queimássemos a Sorbonne?

É proibido proibir

Quando a assembléia nacional se transforma num teatro burguês, todos os teatros burgueses devem transformar-se em assembléias nacionais.

Sejamos realistas, exijamos o impossível

A liberdade, o crime que contém todos os crimes, é a arma de todos nós!

Abramos as portas dos asilos, das prisões, e de outras Universidades

A barricada fecha a rua mas abre o caminho

Trabalhador: tu tens 25 anos, mas o teu sindicato é do outro século. Para mudar isso, visite-nos

Não reivindicaremos nada. Não pediremos nada. Conquistaremos. Ocuparemos

Tomem os vossos desejos pela realidade

Não é o homem, mas sim o mundo que se tornou anormal

Enfureçam-se!

A arte morreu. Não consumam o seu cadáver!

Quanto mais faço amor, mais vontade tenho de fazer a Revolução. Quanto mais faço a Revolução, mais vontade tenho de fazer amor

Vejo-te na calçada

A Humanidade só será feliz quando o último capitalista for enforcado com as tripas do último esquerdista

A sociedade é uma flor carnívora

Quando ouço o termo “cultura” lembro-me da tropa de choque

Abolição do trabalho alienado

Às realizações, mesmo as mais modestas.

O Poder tinha as Universidades; Os estudantes tomaram-nas. O Poder tinha as fábricas; Os trabalhadores tomaram-nas. O Poder tinha a ORTF (Office de radiodiffusion télévision française); Os jornalistas tomaram-na. O Poder tem o Poder; Tomemo-lo.

Não é uma revolução; é uma mutação

A vida está alhures

Não vão à Grécia este Verão, fiquem na Sorbonne

Não consumamos Marx

A imaginação no poder [1]

* (referência à areia posta a descoberto depois de levantados os paralelepípedos para fazer barricadas)

[1] Essas frases de Maio de 68 foram retiradas das seguintes fontes: www.mai68.net ; http://www.dhnet.org.br/desejos/revoluc/maio68slg.htm ; e dos livros I.S Situacionista. Teoria e prática da revolução. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2002 ; I.S., BERENSTEIN JAQUES, Paola (org). Apologia da deriva. Escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003 ; e COELHO, Teixeira. Guerras Culturais. São Paulo: Iluminuras, 2000.

19.12.06

Guy Debord

I - Biografia

Nasci em 1931, em Paris. A fortuna de minha família se diluiu naquele tempo em consequência da crise econômica mundial ocorrida pouco antes nos Estados Unidos; e não parecia que o resto pudesse durar além de minha maioridade. Isto foi o que de fato sucedeu. Pois bem, nasci virtualmente arruinado. Eu não ignorava, falando em sentido estrito, que não devia esperar uma herança, e finalmente não a recebi. Simplesmente, não lhe concedi a menor importância a todas essas questões tão abstratas a respeito do futuro. Assim, durante minha adolescência, me dirigi lenta mas inevitavelmente para uma vida de aventura, não se pode no entanto dizer que tive meus olhos abertos a esta questão, tanto como a muitas outras. Não podia nem pensar em estudar uma profissão das que levam a ter um trabalho estável, pois todas pareciam completamente alheias a meus gostos ou contrárias a minhas opiniões. As pessoas que eu respeitava mais do que a qualquer outra viva eram Arthur Cravan e Lautréamont, e sabia perfeitamente que todos seus amigos, se eu tivesse consentido em seguir estudos universitários, me recusariam mesmo que me resignasse exercitando uma atividade artística; e se não pudesse ter esses amigos, certamente não me rebaixaria a consolar-me com outros. Doutor em nada, mantive-me firmemente apartado de toda aparência de participação nos círculos que passavam então por intelectuais ou artísticos. Admito que meu mérito com respeito a isto estava muito atenuado tanto por minha grande preguiça como por minhas muito magras capacidades para enfrentar o trabalho de tais carreiras.



Na paisagem espetacular o olhar encontra apenas as coisas e o seu preço




Nunca ter outorgado mais do que um bem leve atendimento em questões de dinheiro, e absolutamente nenhum lugar à ambição de sustentar alguma função brilhante na sociedade, é um viés tão raro entre meus contemporâneos que será sem dúvida considerado algumas vezes incrível, mesmo em meu caso. É, no entanto, verdadeiro e foi constante e permanentemente verificavel, que o público terá que se acostumar a ele. Imagino que a causa residia em que minha educação temerária estava encontrando terreno favorável. Nunca vi burgueses trabalhando, com a falta de escrúpulos que sua especial classe de trabalho inevitavelmente entranha; e quiçá aí está a razão pela qual nesta indiferença pude aprender algo bom sobre a vida, mas, tudo seja dito, exclusivamente por ausência e falta. O momento de decadência de qualquer forma de superioridade social é com segurança algo mais elevado do que seus vulgares começos. Sigo vinculado a esta preferência, da qual muito temporão fui consciente, e posso dizer que a pobreza me deu uma grande quantidade de tempo livre, sem ter propriedades arruinadas que dirigir e sem sonhar com restaurá-las através da participação no governo do Estado. É verdade que provei prazeres pouco conhecidos pela gente que obedeceu as lamentáveis leis desta época. É também verdade que observei estritamente diversas obrigações das quais eles não têm a menor idéia. “Pois tu não vês nada mais que o aspecto exterior de nossa vida”, a Regra do Tempo estabelecia sem rodeios em seu momento, “mas não conheces os severos mandamentos que supõe.” Devo fazer notar também, a fim de citar todas as influências favoráveis encontradas ali, o fato óbvio de que tive oportunidade de ler vários livros bastante bons, a partir dos quais é sempre possível encontrar por um mesmo todos os outros, ou inclusive escrever os que ainda faltam.

Talvez eu seja menos inclinado do que outros ao cálculo, já que a decisão tomada tão rapidamente, que me comprometia tanto, foi espontânea, o resultado de uma inconsciência da qual nunca voltei; e da qual mais tarde, com tempo para julgar as conseqüências, nunca me arrependi. Se poderia dizer facilmente que em termos de riqueza ou reputação nunca tive nada que perder, mas, finalmente, também não tive nada que ganhar.

Este meio de pessoas experimentadas em demolições, mais claramente do que seus precursores das duas ou três gerações precedentes, misturou-se então com as classes perigosas. Vivendo com eles, um vivia em grande parte sua vida. Os rastos duradouros obviamente permanecem. Com os anos, mais da metade dos que conheci bem estiveram uma ou várias vezes em prisões de diversos países; alguns, sem dúvida, por razões políticas, mas um maior número por delitos menores ou crimes. Assim, conheci principalmente rebeldes e pobres. Vi a meu derredor muitos indivíduos que morreram jovens, e nem sempre por suicídio, frequente como era. Em matéria de morte violenta, farei notar, sem ser capaz de propor uma explicação inteiramente racional do fenômeno, que o número de meus amigos que foi morto por balas constitui uma alta percentagem invulgar -- deixando de lado operações militares, por suposto.

Nossas únicas ações públicas, que permaneceram isoladas e breves durante os primeiros anos, foram concebidas para ser completamente inaceitáveis: em primeiro lugar, por sua forma; mais tarde, à medida que adquiriram profundidade, por seu conteúdo. Não foram aceitas. “A destruição era minha Beatriz”, escreveu Mallarmé, ele mesmo o guia de outros tantos em explorações bastante perigosas. Por isto é inteiramente verdadeiro que quem quer que se dedique a fazer semelhantes demonstrações históricas, e recuse deste modo todo trabalho existente, deverá saber como viver fora da terra. Discutirei com maior detalhe esta questão mais adiante. Limitando-me aqui a apresentar o tema do modo mais geral, direi que sempre estou disposto a dar a vadia impressão de ter grandes qualidades intelectuais, inclusive artísticas, das quais preferi privar a minha era, que não parecia merecer desfrutá-las. Sempre teve gente para lamentar minha ausência e, paradoxalmente, para ajudar-me a mantê-la. Se isto saiu bem foi só porque nunca fui procurar a ninguém, a nenhum lado. Meu meio foi composto só por aqueles que vieram por sua própria vontade e souberam como fazer-se aceitar. Pergunto-me se algum outro se atreveu a comportar-se como eu nesta era. Deveria também saber-se que a degradação de todas as condições existentes apareceu precisamente ao mesmo tempo, como se justificasse minha singular loucura.

O leopardo morre com suas manchas, e eu nunca tentei superar-me nem me cri capaz de fazê-lo. Realmente nunca aspirei a alguma sorte de virtude, exceto quiçá a de ter pensado que só alguns crimes de um novo tipo, que certamente não puderam ter sido citados no passado, não seriam indignos de mim; e a de não ter mudado, depois de tão mau começo. Num momento crítico nos conflitos da Fronda, Gondi, que tinha dado provas tão genuínas de suas capacidades no manejo de assuntos humanos --notavelmente em seu papel favorito de perturbador da paz pública--, improvisou felizmente adiante do Parlamento de Paris uma formosa citação atribuída a um autor antigo, cujo nomeie todos procuraram em vão, mas que poderia melhor ser aplicada a seu próprio panegírico: In difficillimis Reipublicae temporibus, urbem non deservi; in prosperis nihil de publico delibavi; in desperatis, nihil timui. Ele mesmo a traduziu como: “Em tempos difíceis, não abandonei a cidade; em tempos bons, não tive interesses privados; em tempos desesperados, nada temi.”

Depois de tudo, era a poesia moderna, durante os últimos cem anos, a que nos guiou para ali. Nós éramos um punhado que pensava que era necessário converter seu programa em realidade, e chegado o caso não fazer nenhuma outra coisa. É as vezes surpreendente --a dizer verdade, só desde uma data extremamente recente-- descobrir a atmosfera de ódio e maledicencia que constantemente me rodeou e me manteve oculto tanto como era possível. Alguns pensam que é por causa da séria responsabilidade que com freqüência me foi atribuída pelas origens, ou inclusive pela liderança, da revolta de maio de 1968. Acho que foi o que fiz em 1952 o que mais desagradou por tanto tempo.

Uma enojada rainha da França, uma vez reclamou dos mais sediciosos de seus súditos: “Há rebelião em imaginar que alguém poderia rebelar-se.”

Me orgulho de não ter esquecido nem aprendido nada com respeito a isto. Tinha ruas frias e neve, e o rio transbordado: “No centro da cama/ o rio é profundo.” Tinha moças que faltaram à escola, com seus olhos orgulhosos e seus lábios doces; as buscas frequentes da polícia; o rugido da catarata do momento. “Nunca voltaremos a beber tão jovens.”

Poder-se-ia dizer que sempre amei mulheres estrangeiras. Da Hungria e Espanha, da China e Alemanha, da Rússia e Itália, vieram todas, que encheram minha juventude de regozijo. E mais tarde, quando já tinha o cabelo cinza, perdi a pouca razão que, com o passar do tempo, com grande dificuldade, consegui obter, por uma moça de Córdoba. Omar Khayyam, depois de ter dedicado ao tema um pouco de atendimento, teve que admitir:
“Realmente os ídolos que tanto tempo amei fizeram muito mal a minha confiança no mundo: afogaram minha glória num copo raso e venderam minha reputação por uma canção.”
Quem melhor do que eu poderia sentir a justiça desta observação? Mas ademais, quem mais do que eu desprezou todos os valores de meu tempo e as honras que outorgou? O resultado já estava contido no começo desta jornada.



As reservas impostas ao prazer excitam o prazer de viver sem reservas




Isto teve lugar entre o outono de 1952 e a primavera de 1953, em Paris, ao sul do Sena e ao norte da rua de Vaugirard, ao este do carrefour da Croix-Rouge, e ao oeste da rua Dauphine. Arquíloco escreveu: “Vamos, vamos então com um copo. É saquemos bebida dos barris ocos, apressando o vermelho vinho até as fezes; porque nós não mais do que outros homens podemos permanecer sóbrios nesta guarda.”

Entre a rua du Four e a rua de Buci, onde nossa juventude se descarrilhou tão completamente quando uns poucos copos foram bebidos, alguém pôde sentir-se seguro de que jamais faríamos nada melhor.

É indubitável, a partir dos fatos expostos, que o hábito de beber, velozmente adquirido, marcou minha vida inteira. Vinhos, licores e cervejas: os momentos nos quais passavam a ser algo essencial e os momentos em que reapareciam delinearam o curso principal e as oscilações dos dias, as semanas e os anos. Duas, três ou mais paixões, às quais depois me referirei, obtiveram de maneira quase permanente um lugar nesta vida. Mas a mais constante e a mais presente foi beber. Entre as poucas coisas que desfrutei e soube fazer bem, o que sem dúvida soube fazer melhor foi beber. Embora tenha lido muito, bebi mais do que li. Escrevi muito menos do que a maioria dos que escrevem; mas em comparação com os que bebem, bebi bem mais. Posso incluir-me entre aqueles de quem Baltasar Gracián, pensando numa distinta elite só composta por alemães --mas sendo aqui muito injusto com os franceses, como crio ter demonstrado--, pôde alguma vez dizer: “Existem aqueles que só beberam uma vez, mas fazê-lo lhes levou a vida inteira.”

Vaguei sem cessar pelas grandes cidades européias, apreciando nelas tudo o que valia a pena. O catálogo, neste sentido, não podia não ser abundante. Foram as cervejas da Inglaterra, onde suaves e amargas se misturam em pintas; as grandes garrafas de Munich; e a irlandesa; e a mais clássica, a Pilsen Checa; e o admirável barroquismo da Gueuze, perto de Bruxelas, quando se desfrutava de seu distinto sabor em qualquer cervejaria artesanal e não se conservava bem nos traslados. Foram os licores frutíferos de Alsacia; o rum da Jamaica; os ponches, o acuavit de Aalborg, a grappa de Turín, conhaque, coqueteis; o incomparável mezcal do México. Foram todos os vinhos da França, especialmente o sabrosísimo Borgoña; os vinhos da Itália, e mais do que tudo o Barolo de Langa, o chianti de Toscana; os vinhos da Espanha, o Rioja de Castilla a Velha ou o Jumilla de Murcia.

Teria muito poucas doenças se finalmente o álcool não tivesse contribuído com algumas: desde a insônia à vertigem. E: “Bello como o tremor das mãos no alcoolismo”, disse Lautréamont. Há manhãs que são comovedoras mas árduas.

De qualquer forma, vivi certamente como disse que desejaria fazê-lo, e isto é algo muito pouco usual entre as pessoas de minha época, os quais parecem todos crer que deviam viver de acordo com as normas dos que dirigem a produção econômica e o poder de comunicação sobre o qual está armada. Permaneci na Itália e Espanha, principalmente em Florença e Sevilla --na Babilonia, como diziam na época dourada-- mas também em outras cidades que tiveram seu apogeu, e inclusive no campo. Desta forma, gozei de uns quantos anos agradáveis. Bem mais tarde, quando a maré de destruição, poluição e falsificação terminou por conquistar a superfície inteira do planeta, e ao mesmo tempo chegar perto de suas profundidades, pude voltar aos restos que sobraram de Paris, porque então já nada melhor havia em nenhum outro lado. Não há como exilar-se em um mundo unificado.

Quase tudo o que fiz em minha vida foi marcado por uma combinação de circunstâncias, com certo ar conspirativo. Nesta grande era foram criadas várias profissões novas a um alto custo e com o só propósito de mostrar a beleza que nestes últimos tempos foi capaz de atingir esta sociedade, e como isto se manifesta sadiamente em todos seus discursos e em todos seus planos. Quanto a mim, sem nenhum salário, dei o exemplo de projetos completamente diferentes; o qual foi sempre inevitavelmente mal recebido. Isto me permitiu também, em muitos países, conhecer pessoas corretamente consideradas como “perdidas”. A polícia as vigia.

Se alguém se lembra do que experimentou, já não é necessário indagar em cada mínimo detalhe uma experiência nunca realizada, ou seu assombroso caráter paradoxal. Assim, em honra à verdade, devo assinalar, seguindo a outros, que a polícia inglesa parecia ser a mais desconfiada e a mais amável, a francesa a mais perigosamente treinada na interpretação histórica, a italiana a mais cínica, a belga a mais rústica, a alemã a mais arrogante, enquanto a espanhola provava ser a menos racional e a mais inepta.

Por ter tido, graças a uma das poucas qualidades positivas de minha temporã educação, um evidente sentido da discrição, senti sempre a necessidade de mostrar uma discrição ainda mais pronunciada. Desta maneira, muitos vantajosos hábitos chegaram a ser em mim como uma segunda natureza; digo isto sem conceder nada aos maliciosos que poderiam atrever-se a afirmar que não há maneira de distinguir esses hábitos de minha própria natureza. Seja qual for a questão, treinei-me a mim mesmo para ser ainda menos interessante quando percebi alguma possibilidade de ser super-escutado. Em alguns casos, permiti-me também fazer algumas observações ou dar meus pontos de vista através de cartas dirigidas pessoalmente a amigos e modestamente assinadas com nomes pouco conhecidos formados ao redor de certos poetas famosos: por exemplo, Colin Decayeux ou Guido Cavalcanti. Mas é evidente que nunca me rebaixei a publicar absolutamente nada sob um pseudônimo, pese ao que com freqüência insinuaram na imprensa, com extraordinário aprumo, alguns difamadores mercenários, ocultando-se eles mesmos sob as generalidades mais abstratas.



O único livre arbítrio é recusar pagar




Nossa era de técnicos faz um uso abundante do adjetivo sustantivado “profissional”; parece crer que encontrou nele um tipo de garantia. Evidentemente, se alguém considera minha remuneração apenas pelas minhas aptidões, não há dúvida de que fui um profissional muito bom. Mas em que? Este será meu mistério, à vista de um mundo condenável.

Estou muito interessado na guerra e nos teóricos da estratégia, mas também nas recordações de batalhas e em outros inumeráveis transtornos que a história menciona nos redemoinhos no curso do tempo. Não ignoro que a guerra é o campo do perigo e da decepção, talvez em maior medida do que outros aspectos da vida. No entanto, esta certeza não conseguiu diminuir a atração que sinto por ela.

Estudei, portanto, sua lógica. Por outro lado, faz já muito tempo que consegui apresentar os fundamentos de seus movimentos num jogo de mesa sumamente simples: as forças em conflito e as contrastantes necessidades impostas às operações de cada uma das partes. Pratiquei este jogo e aproveitei seus ensinos ao longo de minha vida --na qual também determinei quais seriam as regras do jogo para depois seguí-las.

Na Vendée, quando ainda seguia resistindo, uma Canção para reanimar aos Chouans por ocasião de uma derrota dizia, testarudamente:
“Só temos uma vida para viver, devemos honrá-la. Esta é a bandeira a seguir...”
Durante a Revolução Mexicana, os seguidores de Pancho Vila cantavam:
“Desta famosa Divisão do Norte, só uns poucos de nós sobrevivem agora, para seguir atravessando montanhas e encontrar alguém com quem brigar onde quer que vamos”.
E os voluntários americanos da Brigada Lincoln cantavam em 1937:
“Há um vale na Espanha chamado Jarama, é um lugar que todos nós conhecemos muito bem. Foi lá que perdemos não apenas a coragem, como também os melhores anos de nossas vidas”.
Uma canção dos alemães na Legião Estrangeira fornece uma melancolia mais crua:
“Anne-Marie, a que parte do mundo estás indo? Eu vou à cidade onde estão os soldados”.
Montaigne tinha suas citações; eu tenho as minhas. OS soldados marca um passado mas não um futuro. É por isso que suas canções podem comover-nos.

Ainda que constituo um exemplo destacável do que esta era não quis, o fato de saber o que ela pretendia faz com que não me pareça suficiente afirmar minha excelência. Com grande veracidade, no primeiro capítulo de sua História dos quatro últimos anos da Rainha, Swift declara: “Também não misturarei o panegírico ou a sátira com uma história concebida para informar à posteridade ou instruir a nossos contemporâneos, que podem ser ignorantes ou confundidos, pois os fatos, autenticamente narrados, são os melhores aplausos ou as mais duradouras objeções.” Ninguém soube melhor do que Shakespeare como se passa a vida. Parece-lhe que “somos feitos da matéria de nossos sonhos”. Calderón chegou à mesma conclusão. Ao menos estou seguro, em relação ao anterior, de ter conseguido comunicar aqueles elementos necessários para que, no que me toca, as coisas se esclareçam e não perdure nenhum tipo de mistério ou ilusão.

Aqui o autor finaliza sua verdadeira história: saibam perdoar seus defeitos.
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II - Bibliografia

A sociedade do espetáculo e outros textos situacionistas, Madri, Edições da Flor, 1974. Trad. Jorge Diamant.

A sociedade do espetáculo, Madri, Castellote Editor, 1976. Trad. Fernando Casado.

A sociedade do espetáculo, Editora Universitária de Chile, 1997

A sociedade do espetáculo, Valencia, Pré-Textos, 1999. Trad. Jesús Pardo.

A sociedade do espetáculo, Bilbao, 1999. Trad. Maldeojo.

Comentários à sociedade do espetáculo. Barcelona, Anagrama, 1990. Trad. Carme López.

Comentários à sociedade do espetáculo. Inclui "Prólogo à quarta edição italiana de 'A sociedade do espetáculo'". Barcelona, Anagrama, 1999. Trad. Luis A. Bredlow.

Panegírico. Madri, Aguarela, 1999. Tradução de Tomás González López e Amador Fernández-Savater.

In girum imus nocte et consumimur igni. Barcelona, edição coletiva, 1999. Trad. Joaquim Sirera.

"Relatório sobre a construção de situações e sobre as condições da organização e a ação da tendência situacionista internacional". Revista Fora de Banda, # 4: nem arte, nem política, nem urbanismo, Valencia, 1997

. Aullidos por Sade. Revista Sem título, # 1, Cuenca, Faculdade de BB.AA., 1994. Trad. José Antonio Sarmiento.

Crítica da separação. Revista Arquipélago, # 39, inverno 1999. Trad. Tomás Gonz´lez López e Amador Fernández-Savater, Barcelona.

Refutação de todos os juízos, tanto elogiosos como hostis, que até agora se fizeram sobre a película 'A sociedade do espetáculo', tradução de Laura Baigorri publicada no Amano, 9, Madri, indústrias mikuerpo, 1997

. In girum imus nocte et consumimur igni, Trad. Luis A. Bredlow, Barcelona, Anagrama, 2000

. Extratos de In girum imus nocte et consumimur igni, suplemento "Elogio a Guy Debord" na revista Refractor # 5, Madri, 1998

. Refutação de todos os juízos, tanto elogiosos como hostis, que até agora se emitiram sobre a película "A sociedade do espetáculo" e Aullidos por Sade, em dossier "Toponimias: Guy Debord" da revista Bandaparte # 14-15, Valencia, Edições da Mirada, 1999

. com WOLMAN, Gil J. (1956): "Métodos de Detournement". Fanzine Amano, # 7, Madri, indústrias mikuerpo, 1997

. "Carta a Gianfranco Sanguinetti", num terrorismo em procura de dois autores, Bilbo, muturreko burutazioak, 1999.

fonte digital: http://www.iade.org.ar/modules/noticias/article.php?storyid=475

Revoluções Cotidianas: Práticas e Instituições para Viver Além do Capitalismo na Vida Cotidiana






Por Adam Weissman

Derrubar o capitalismo? Esmagar o estado? Estas frases podem inspirar os verdadeiros adeptos, mas para praticamente todas as outras pessoas, elas soam como tolas, sinistras ou até mesmo insanas. A maioria das pessoas que vivem em países industrializados vê a civilização industrial capitalista como uma realidade básica da vida e como algo absolutamente necessário para a sua sobrevivência. Se os revolucionários têm a esperança de expandir nossa resistência além de uma minúscula fração, então nós devemos fazer mais do que protestar contra governos e empresas socialmente irresponsáveis enquanto recitamos discursos revolucionários. Nós devemos mostrar que nossas vidas não dependem em jogar “pelas regras” como trabalhadores e consumidores obedientes e passivos, e para isso devemos demonstrar novas e melhores formas de sobreviver e prosperar.

Texto integral em http://freegan.info/?page=EvRev_BR#_edn70

16.12.06

Políticos dobram seus próprios salários

O escorpião e o sapo

14.12.06

O escorpião e a rã


Parado ao sol, o escorpião olhava ao redor da montanha onde morava.

"Positivamente, tenho de me mudar daqui" - pensou.

Esperou a madrugada chegar, lançou-se por caminhos empoeirados até atingir a floresta. Escalou rochedos, cruzou bosques e, finalmente, chegou às margens do rio largo e caudaloso.

"Que imensidão de águas! A outra margem parece tão convidativa... Se eu soubesse nadar..."

Subiu longo trecho da margem, desceu novamente, olhou para trás. Aquele rio certamente não teria medo de escorpião. A travessia era impossível.

"Não vai dar. Tenho de reconsiderar minha decisão" - lamentou.

Estava quase desistindo quando viu a rã sobre a relva, bem próxima à correnteza. Os olhos do escorpião brilharam:

"Ora, ora... Acho que encontrei a solução!" - pensou rápido.

- Olá, rãzinha! Me diga uma coisa: você é capaz de atravessar este rio?

- Ih, já fiz essa travessia muitas vezes até a outra margem. Mas por que você pergunta? - disse a rã, desconfiada.

- Ah, deve ser tão agradável do outro lado - disse - pena eu não saber nadar.

A rã já estava com os olhos arregalados: "será que ele vai me pedir...?"

- Se eu pedisse um favor, você me faria? - disse o escorpião mansamente.

- Que favor? - murmurou a rã.

- Bem - o tom da voz era mais brando ainda.

- Bem, você me carregaria nas costas até a outra margem?

A rã hesitou:

- Como é que eu vou ter certeza de que você não vai me matar?

- Ora, não tenha medo. Evidentemente, se eu matar você, também morrerei - argumentou o escorpião.

- Mas... e se quando estivermos saindo daqui você me matar e pular de volta para a margem?

- Nesse caso eu não cruzaria o rio nem atingiria meu destino - replicou o escorpião.

- E como vou saber se você não vai me matar quando atingirmos a outra margem? - perguntou a rã.

- Ora, ora... quando chegarmos ao outro lado eu estarei tão agradecido pela sua ajuda que não vou pagar essa gentileza com a morte.

Os argumentos do escorpião eram muito lógicos. A rã ponderou, ponderou e, afinal, convenceu-se. O escorpião acomodou-se nas costas macias da agora companheira de viagem e começaram a travessia. A rã nadava suavemente e o escorpião quase chegou a cochilar. Perdeu-se em pensamentos e planos futuros, olhando a extensão enorme do rio.

De repente se deu conta de que estava dependendo de alguém, de que ficaria devendo um favor para a rãzinha. Reagiu, ergueu o ferrão.

"Antes a morte que tal sorte" - pensou.

A rã sentiu uma violenta dor nas costas e, com o rabo do olho, viu o escorpião recolher o ferrão. Um torpor cada vez mais acentuado começava a invadir-Ihe o corpo.

- Seu tolo - gritou a rã - agora nós dois vamos morrer! Por que fez isso?

O escorpião deu uma risadinha sarcástica e sacudiu o corpo.

- Desculpe, mas eu não pude evitar. Essa é a minha natureza.

13.12.06

Jan Zizka (1360-1424)


«Não vos venho trazer a Paz, mas a Espada». Mt.10:34

«Agora, quem não tem
uma espada venda o manto e compre uma». Luc.22:36

«Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? Tenho visto o trabalho penoso que Deus deu aos filhos dos homens para nele se exercitarem». Eclesiastes 3:1-10

Ainda Tabor


Por Kenneth Rexroth

Freqüentemente é dito que foi a Revolução Francesa que inventou o exército nacional, o levée en masse de todo um povo. Seu verdadeiro inventor foi Jan Zizka. Embora os taborites formassem o núcleo de uma permanente força de luta, cada cruzada do imperador e do papa reunia uma grande maioria de checos. Zizka introduziu métodos notavelmente modernos de combate que propiciavam um elevado poder de fogo, o exército taborite foi o primeiro a usar sistematicamente a artilharia como principal braço tático. As tentativas de invasão tiveram como resposta uma profunda contra-invasão no território inimigo, desde o princípio a pilhagem exerceu uma parte importante nos suprimentos de Tabor. Zizka nunca pôde controlar completamente as minas de propriedade alemã, ou a cidade de Pilsen que permaneceu como reduto romano. Inicialmente, a maioria dos trabalhadores eslavos que se levantaram em revolta foram derrotados por mercenários alemães. Em Kutna Hora dezesseis mil pregadores juntamente com seus seguidores foram mortos e lançados nas minas.

Zizka iniciou sua carreira cego de um olho e incidentalmente uma flecha cegou seu outro olho. Ele estava completamente cego quanto travou suas últimas batalhas. Ele morreu em 1424 de uma infecção na véspera de uma conquista planejada da Morávia e Silésia. Sua vaga foi ocupada por Procopius que derrotou os alemães em duas grandes batalhas em 1427, os exércitos da Boêmia se tornaram o terror da Áustria, Hungria, Silésia, Saxônia, Brandenburgo, Palatino, e Francônia.

Os exércitos taborites simplesmente cessaram de invadir território inimigo e passaram a conquistá-los, ou seja, deixar guarnições nas cidades e castelos que capitularam. A Boêmia revolucionária ameaçava controlar toda Europa Central. O Papa Martin V convocou um conselho geral em Basel no ano de 1431 para lançar outra Cruzada, que novamente amargou uma derrota opressiva. Os emissários do papa, o imperador, e o conselho iniciaram negociações secretas com os utraquistos, que em nenhum aspecto eram revolucionários no sentido econômico ou social e que constituíam uma das mais instáveis alianças com a Tabor comunista. Os próprios taboritas, inábeis em conquistar o apoio dos camponeses, introduziram uma requisição forçada de alimento, primeiro para o exército e para as cidades, e depois para o estabelecimento de um estilo próprio de exação semi-feudal. Mais de quinze anos de vitórias contínuas se passaram e o próprio exército dava sinais de degeneração, enchendo-se de aventureiros vindos de toda Europa. Eventualmente os taboritas acabaram isolados e derrotados em 30 de maio de 1434, perto da Lipânia na Boêmia quando treze mil de um exército de dezoito mil foram mortos. Tanto Procópio o Grande, como seu tenente em chefe, Procópio o Pequeno caíram naquela batalha.

Os utraquistos, Papa Alexandre VI, e o Imperador Sigismund concordaram em negociar as bases dos Artigos de Praga, e em 1436 eles foram aceitos em toda parte de uma forma ambígua e modificada que permitia o uso opcional do rito romano pela Missa. A Igreja Nacional da Boêmia tomou a forma de uma espécie de igreja mista, unindo o rito ortodoxo com a comunhão com Roma, até depois da Batalha da Montanha Branca em 1620 na Guerra dos Trinta Anos. A partir dessa data essa prática foi abandonada e a obediência a Roma completamente restabelecida. Os próprios utraquistos capturaram Tabor em 1452 quando os militantes taboritas foram forçados a uma existência undergroud, para reemergirem como anabatistas e outras seitas radicais da Reforma iniciada por Lutero. Os pacifistas e os mais estritos comunistas religiosos fundaram a Unitas Fratrum, também conhecida como Irmãos Checos, Irmãos Moravianos, ou Irmãos Unidos, que existem até hoje. Os huteritas também trazem sua ascendência de Tabor.

As contínuas cruzadas papais e imperiais forçaram a formação de uma frente unida e ampla nos grupos de dissidentes reformistas e revolucionários da Boêmia. Sempre que a pressão externa relaxava, essa unidade era demolida pelo partidarismo, às vezes alcançando o ponto de conflito armado. Estas divisões eram definidas claramente por linhas étnicas e de classe.

A maioria dos nobres, ricos comerciantes alemães e proprietários de minas eram pró-Roma. Muitos deles deixaram o país. Outros conseguiram estabelecer-se em pequenos enclaves que nunca foram incorporados pelo estado boêmio revolucionário. A razão disso é que na verdade não havia qualquer estado boêmio revolucionário, nem mesmo um, unificado em termos de uma entidade política em terras checas. Os nobres e magnatas checos somaram-se a alguns alemães formando uma ala direitista no partido utraquista juntamente com o arcebispo e a Rainha Sofia. Para eles os Artigos de Praga não eram um programa mínimo mas um programa máximo. Uma vez secularizada a propriedade da Igreja eles permaneceram socialmente conservadores, bastante contentes com seus privilégios feudais escorados por monopólios e franquias, nada diferente da classe dominante inglesa do tempo de Henry VIII.

No começo da revolução, com o primeiro cerco de Praga, grande parcela do poder político se transferiu para as mãos da classe dos artesãos. Checos em quase sua totalidade, com exceção de certos profissionais como os ourives, eles se aliaram com pequenos nobres checos como Jan Zizka e com a maioria da classe média baixa, que representava um número considerável. Eles eram os militantes utraquistos. Para eles os Artigos de Praga eram um programa mínimo. Esta aliança era antipapa e não tinha nenhuma intenção de restaurar o catolicismo romano, visava uma Igreja Católica livre na qual o papa seria apenas um bispo de Roma, um bispo igual aos demais. Eles rejeitaram a doutrina romana da transubstanciação. A maior parte de seus clérigos adotara a doutrina de Wycliffe da permanência, ou seja, de que o pão e o vinho permanecem inalterados depois da consagração, de forma que o corpo e o sangue de Cristo apenas estão presentes espiritualmente, “como em um espelho”. Eles também rejeitaram a idéia de que a Missa era sagrada e a interpretaram como sendo essencialmente uma comunhão espiritual, um ato congregacional. Eles rejeitaram a estrutura social e econômica do feudalismo; embora começassem a desenvolver uma forma mercantil de capitalismo, sua base no futuro, eles estavam indefinidos sobre o que colocar em seu lugar. Politicamente eles eram democratas, embora líderes como Jan Zizka lentamente introduzissem lideranças da elite clerical, pequenos nobres, e cidadãos prósperos e educados.

O século XV foi uma época de inflação e de instabilidade econômica, especialmente na Boêmia. Praga desenvolveu uma grande classe de desempregados, como também um submundo de semi-criminosos. Tais pessoas, juntamente com os trabalhadores pobres, formavam um proletariado lumpen sempre pronto para revoltas, funcionando como o pavio da extrema esquerda.

Com o passar do tempo, com as notícias sobre a revolução na Boêmia se espalhando pela Europa, os sectários e hereges migraram para Praga — primeiramente das cercanias da Bavária, do Tirol, e da Renolândia, e eventualmente de locais longínquos como a Lituânia, Inglaterra, e Espanha. Um dos líderes da fraternidade Oreb era um lollardo inglês, Peter Payne. Após o estabelecimento das comunas de Tabor e Oreb, esta migração se transformou em uma inundação. Aparentemente todos os excêntricos e psicóticos religiosos deslocaram-se para a Boêmia. Em 1418 quarenta refugiados de Lisle e Tournai chegaram em Praga fugindo da violenta perseguição em seus países. Os primeiros foram os picardos. Os pikarti, como eram chamados, deram seu nome às formas mais extremas de revolta.

A reação à revolução boêmia no resto da Europa não foi diferente da reação aos red hunts e white terrors do século XX. Os hereges e cismáticos que tinham sido tolerados ou ignorados como inconseqüentes pelo Estado, em toda parte passaram a ser caçados, enviados à fogueira, ou linchados pela turba. Aqueles que puderam fugiram para a Boêmia, onde acreditavam que o paraíso terrestre estava em processo de realização. Todos esses diferentes elementos formaram uma classe, a classe daqueles que não tinham mais nada a perder. Contudo, eles não foram outra coisa senão o coração e a alma da extrema esquerda. Seus líderes e porta-vozes eram monges renegados, clero secular anterior, e pessoas alfabetizadas da classe média baixa.

Após seu início, a revolução boêmia não apenas foi deslocada de sua base camponesa, como veio a perder o apoio entusiástico dos seus seguidores camponeses, cuja atitude tendeu mais ao consentimento passivo do que à oposição ativa. Os camponeses estavam interessados na abolição das exações feudais, na redistribuição da terra, e na supressão das incipientes tendências à servidão que atingiria seu ápice depois da Reforma de Lutero. Uma vez conquistados esses objetivos, os camponeses perderam seu interesse na revolução, tornando-se conservadores pelas suas próprias conquistas. Considerando que nem Praga nem Tabor foram capazes de desenvolver novas formas efetivas de produção econômica, a revolução nas cidades foi forçada a retirar recursos do campo, e no caos econômico foi incapaz de proporcionar um retorno adequado ao valor recebido. A restauração do papa e do imperador significou um retorno ao feudalismo. A continuação de seus novos senhores no poder significou novas exações. Os camponeses permaneceram passivos.

A economia de Tabor foi chamada pelos historiadores posteriores de comunismo de consumo, não de produção, mas é difícil compreender como, durante tão longo período, os dois puderam ser mantidos separados. Há recentes estudos sobre o grau de socialização da produção em Tabor mas todos eles ainda estão em checo. Tabor controlou algumas das principais minas de ouro daqueles dias na Europa e sua produção parece ter ocorrido em uma base completamente comunista. Quando a comunidade estava no comando e quando comunidades afiliadas se estabeleciam em outros locais, grandes cofres eram colocados no centro da cidade, as pessoas vendiam todas suas propriedades e colocavam o dinheiro e suas jóias, se possuíssem, no cofre, e posteriormente também seus salários, aparentemente recebidos pelo trabalho efetuado em seus antigos empregos ou comércio à sua moda. A riqueza acumulada era distribuída igualmente para todos os cidadãos da comuna. Como as guerras hussitas foram mais movidas pela pilhagem, elas se expandiram mais pelo saque do que pela conversão, por essa razão as primeiras invasões ocorreram em território alemão. É difícil compreender como essas coisas funcionavam. Historiadores anticomunistas defendem uma grande semelhança àquilo que é chamado de “comunismo de brigand” do tipo que se desenvolveu nas comunidades hereges muçulmanas no Oriente Próximo. A evidência geral, por outro lado, indica que a vida em Tabor, Oreb, e outras comunas transcorreu de uma forma bastante normal, na forma de um comunismo produtivo, e que, considerando as dificuldades, não foi de forma alguma parasitário, ou certamente não mais do que o feudalismo decadente que substituiu. Aqueles que acreditavam em um comunismo puramente parasitário foram expulsos da cidade.

Assim surge o famoso Adamites cuja vida é supostamente retratada no quadro de Hieronymus Bosch, O Paraíso Terrestre. Ele foi celebrizado em nossos próprios dias pelo Big Sur and the Oranges of Hieronymus Bosch de Henry Miller; por toda parte da América jovens transviados se aglomeram nas rodovias, pedindo carona para Adamite que promete uma terra chamada Grande Sul, que eles descobrem consistir de um conjunto de montanhas escarpadas diante do mar, povoadas por nativos hostis que aparentemente sabem dizer apenas duas palavras no idioma inglês: “Move on”.

A maioria dos taborites, a Fraternidade de Oreb, e seus aliados na Nova Cidade de Praga chegaram logo a um consenso geral na revolução. Eles aceitaram a Bíblia numa combinação das doutrinas wycliffitas, waldensianas, e do Livre Espírito. A Bíblia era a autoridade exclusiva de fé e prática; os credos e as traduções da Igreja eram apenas corrupções, da mesma forma que seus ritos e cerimonias, a sagrada Missa, indulgências e orações pelos mortos, orações pelos santos, confissão auricular, extrema unção, batismo de crianças, e todos acessórios como crisma, bênçãos, água benta, vestuários de Missa, imagens, dias santos, tradicionais cantos de Missa e ofícios de oração. Todas essas coisas negavam a vida da Igreja apostólica. Aquelas pessoas acreditavam, como os waldenses, que o ministério e a autoridade de um padre em pecado era inválido. E não apenas isso, caso fosse necessário, qualquer leigo poderia celebrar a Eucaristia ou ouvir confissões.

A maioria dos militantes, ao longo da história dos dissidentes, foram milenaristas extremados. Eles acreditavam que a Segunda Vinda de Cristo (disfarçado de bergantim) e a destruição universal do mundo mau aconteceria quase imediatamente, primeiramente em 1420; e quando a data passou, foi adiada para mais alguns anos. Em preparação para a vinda do reino era dever da fraternidade dos santos encharcar suas espadas com o sangue dos malfeitores, realmente lavar as mãos com sangue. Após a destruição por atacado, assim como em Sodoma e Gomorra, Cristo apareceria no topo de uma montanha e celebraria a vinda do reino com um grande banquete messiânico para todos os crentes.

Enquanto esse dia não chegava, os taborites antecipavam essa comunhão dos santos promovendo grandes ajuntamentos próximos às colinas e montanhas onde a Eucaristia se tornava um massivo ágape ou festa do amor presidida pelos líderes militares ou religiosos como faziam os messias sacerdotais e reais do Qumran.

No reino todos os sacramentos e ritos seriam dispensados e substituídos pela presença real de Cristo e do Espírito Santo, todas as leis seriam abolidas, os eleitos jamais morreriam, e as mulheres iriam parir crianças sem dor e sem relações sexuais prévias. Em 1420 os taboritas quebraram todas as conexões com a Igreja Católica pela eleição secular e pela ordenação de bispos e padres.

A maioria dos taboritas foi extremamente puritano em sua conduta pessoal, mas uma minoria, influenciada pelas doutrinas do Espírito Livre de Pikarti, acreditava que o milênio já havia chegado. Eles compunham o reino dos eleitos, e para eles todas as leis tinham sido abolidas.

Quatrocentos deles foram expulsos de Tabor em 1421 e vagaram nus pelos bosques, cantando e dançando, reivindicando estar no estado de inocência de Adão e Eva antes da queda. Com base nas observações de Cristo sobre as meretrizes e os publicanos, eles consideravam a castidade um pecado e aparentemente passavam a maior parte de seu tempo em contínuas orgias sexuais.

Jan Zizka, que já tinha se retirado da Fraternidade de Tabor, mudou-se para Oreb, uma comunidade menos extremada, passando o resto de sua vida caçando-os. Várias centenas fugiram e se estabeleceram em uma ilha em um rio ao sul da Boêmia, baseados nessa ilha passaram a invadir os bairros vizinhos, incendiando igrejas, matando padres e todos aqueles que opunham resistência. Após um breve cerco Zizka invadiu a ilha e exterminou a todos exceto um prisioneiro que, após escrever uma confissão completa de sua doutrina, foi queimado e suas cinzas lançadas ao rio.

Esse foi o fim da extática e orgiástica comuna dos adamitas. Acusações de desregramentos sexuais e cerimonias ultrajantes, como também assassinato e roubo, foram comuns na longa história da heresia, tais acusações são usualmente tidas como fantasias oriundas das mentes neuróticas de inquisidores celibatários. Mas a história dos adamitas não vem dos inquisidores, mas de homens que foram os próprios hereges revolucionários, que conheceram intimamente os adamitas, e que não tinham nenhuma razão para acusá-los falsamente. As crenças e conduta dos adamitas diferem daquilo que conhecemos dos vários grupos do Espírito Livre no resto da Europa apenas quando comparamos essas crenças e condutas à luz da liberdade de ação brevemente esboçada pelos adamitas em uma situação revolucionária.

Além das secessões de Tabor, com Zizka à direita e os adamitas à esquerda, aqueles que se opuseram à pregação da violência desenfreada se retiraram sob a liderança de Pedro Chelsicky para uma área rural da Boêmia e fundaram uma comunidade pacifista, rejeitando todo uso da força. Para Chelsicky, o poder político e o Estado existe apenas como um mal necessário, como um resultado do pecado original, para manter a ordem no mundo fora da comunidade dos verdadeiros cristãos, onde todas as relações são governadas pela paz e pelo amor. A comunidade que ele fundou não tinha qualquer organização externa; o único laço era o amor e o exemplo da vida de Cristo e dos apóstolos. Estes pacifistas extremados sobreviveram a todas as revoluções e contra-revoluções da reforma boêmia, para se tornar o Unitas Fratrum, os Irmãos Checos.

A vida em Tabor provavelmente teve uma glória especial, a glória de uma sociedade transfigurada, onde a vida era vivida de uma forma tão exultante que se aproximava da loucura. A comunhão era o acordo diário de milhares de pessoas que cantavam ao ar livre nos campos, onde celebravam vastos encontros religiosos no topo das montanhas, com exércitos retornando da batalha, em triunfo, carregados de pilhagem e empunhando troféus como mobílias luxuosas de cardeais e reis, com multidões dançando pelas ruas, com centenas de milhares de inimigos fugindo por cima do gelo quebradiço, com exércitos marchando ao som de hinos em uníssono, com o rugido dos vagões férreos e das rodas dos canhões, com um cálice dourado, em vez de uma bandeira, acima de suas cabeças.

Tabor foi o monte onde Barak e Débora juntaram os anfitriões que aniquilaram Sísera, imortalizado em um dos grandes poemas da Bíblia; mas os taboritas também acreditavam que o Monte Tabor foi também o monte da transfiguração de Cristo, o Monte das Oliveiras onde ele pregou o sermão do apocalipse em Marcos 12 antes de começar sua marcha para a crucificação; e finalmente era a montanha da qual ele ascendeu para o céu. Todas essas coisas simbolizavam a natureza da vida vivida em Tabor.

Platão, São Thomas More, Campanella, Harrington, Bacon, todos tentaram imaginar sociedades nas quais a oportunidade para aquilo que a Igreja originalmente chama de pecado seria severamente inibida, onde seria praticamente impossível aos homens procurarem por bens menores imediatos em vez de um último maior bem. Tabor em seus primeiros anos resolveu o problema da utopia negando isso. Os taboritas foram os primeiros a tentar fundar uma sociedade no princípio de que a liberdade é mãe, não filha da ordem. Eles tiveram sucesso por causa de suas contínuas guerras. Na realidade, sem perceber, eles se tornaram uma teocracia militar.

Se o socialismo em um país é deformado e aleijado, o comunismo em uma cidade é impossível em qualquer período de tempo. Cedo ou tarde as amarras da sociedade se afrouxarão, mas o mundo lá fora não. Sempre se espera que isso aconteça, mais especialmente em tempos de paz. Tabor nunca foi capaz de balancear seu comunismo popular de consumo com um comunismo organizado e planejado de produção, nem de trocar bens entre comunas urbanas e comunas camponesas. Por aquele tempo foi amplamente apregoado e acreditado que os checos, quando colonizaram a Boêmia, eram comunistas e que os taboritas foram apenas os restauradores da comunidade original eslava. Isto provavelmente foi verdade. Comunas agrícolas funcionais que foram revivificações das primitivas comunidades camponesas eslavas, como as comunidades russas mir que remontam às aldeias neolíticas, devem ter existido. Quando a Contra-reforma esmagou a degenerada Igreja Utraquista Boêmia, foi o comunismo campônio dos huteritas e dos Irmãos que sobreviveu. A escravidão se estabeleceu na Boêmia em 1487 e alcançou sua forma mais extrema após a Revolta dos Camponeses na Alemanha e a Reforma de Lutero.

Extraído de http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/comunalismo.html

Constituição Taborita


Constituição dos membros do conselho Taborita e do exército, sobre uso e distribuição da propriedade. Em Tabor, os habitantes se chamavam mutuamente de irmãos e irmãs, e não reconheciam nenhuma diferença entre "teu" e "meu". Ensinavam que "não haveriam reis, nem amos, nem escravos na terra, e que os impostos e as obrigações seriam abolidos". Não haveria qualquer coação, tudo pertenceria a todos, e portanto, diziam, aquele que possuísse uma propriedade cairia em pecado mortal. Este comunismo, de natureza cristã, era um comunismo de consumo, não de produção. Cada família trabalhava para si mesma, contribuindo com seu excedente à tesouraria geral.

12.12.06

MORRE O PORCO


Pinochet homenageado por algumas de suas crias fascistas


A morte de Pinochet é um marco na história política do Chile. O genocida passou à história como inimigo do povo e da liberdade, e como serviçal dos interesses da minoria exploradora, a burguesia e o imperialismo.

10.12.06

No Reino do Brasil

No Reino do Brasil








Tem gente que acha que o Brasil é uma democracia


Tem gente que acha que o Brasil é uma ditadura


Na verdade, o Brasil não é nenhum dos dois







O Brasil é um sistema feudal


Temos Rei, Nobres, Povão e Bobos da Corte







Povão


Bobos da Corte


Os moradores do Brasil


Nobreza


Quem são?


O que fazem?


Políticos, altos funcionários públicos, juízes aposentados, fiscais e outros


Empresários, Executivos, Profissionais liberais, trabalhadores com carteira assinada e outros


Miseráveis, aposentados pela iniciativa privada, trabalhadores informais e outros


Consomem muito mais riqueza do que produzem


Produzem muito mais riqueza do que consomem


Produzem e consomem pouca riqueza







Tudo começa com os bobos da corte







Digamos que a sua empresa te pague R$ 5.000 por mês


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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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R$ 5.000,00


Somando os diversos tipos de imposto, você pagará em média 35% do total direto à nobreza


- R$ 1.750,00


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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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Sobrando por enquanto R$ 3.250


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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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Com esse dinheiro, você comprará produtos e serviços, como arroz, gasolina e manicure


R$ 5.000,00


- R$ 1.750,00


= R$ 3.250,00


Só que nesse produtos e serviços, estão embutidos cerca de 40% de impostos, que vão direto para a nobreza...


- R$ 1.300,00


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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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Até agora, dos R$ 5.000,00 que você suou a camisa para ganhar, sobraram apenas R$ 1.950


R$ 5.000,00


- R$ 1.750,00


= R$ 3.250,00


- R$ 1.300,00


= R$ 1.950,00


Em um País normal, em troca dos 60% do seu salário que você já entregou, você deveria receber ensino, saúde e aposentadoria gratuitos e de qualidade


Mas no Brasil nada disso presta, portanto você precisa pagar tudo de novo







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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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Você gasta mais R$ 1.200 entre escola particular, plano de saúde e previdência privada


R$ 5.000,00


- R$ 1.750,00


= R$ 3.250,00


- R$ 1.300,00


= R$ 1.950,00


São serviços que você deveria receber de graça em troca do dinheiro previamente saqueado pela nobreza


- R$ 1.200,00


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VOCÊ: O BOBO DA CORTE


NOBREZA


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Sobrou R$ 750


= R$ 750,00







Resumo


Foi para a nobreza


R$ 4.250


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Você produziu


R$ 5.000


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Você consumiu


R$ 750


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O equilíbrio do sistema


Povão


Bobos da Corte


Nobreza


1) Bobos da corte entregam a maior parte da sua riqueza para os nobres


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2) Nobreza joga migalhas para o povão, como bolsa família, bolsa creche, auxílio enchente...


3) Povão devolve votos para a nobreza


VOTE JOÃO!







Situação final


Continua ignorante
Continua miserável
Continua feliz desde que haja cachaça e futebol


Povão


Nobreza


Bobos da corte


Continua trabalhando pouco
Continua levando uma vida de luxo
Continua aumentando gastos e impostos


Concluem que produzir no Brasil é um mau negócio
Ficam olhando os países mais sérios decolarem à frente do Brasil
Os mais brilhantes e capazes se mudam para países onde são mais valorizados








Comentários, críticas e sugestões


folks18@hotmail.com