Tabor (1420-1437)
Os habitantes de Tabor se chamavam mutuamente de irmãos e irmãs, e não reconheciam nenhuma diferença entre "teu" e "meu". Os Taboritas ensinavam que "não haveriam reis, nem amos, nem escravos na terra, e que os impostos e as obrigações seriam abolidos". Segundo sua doutrina não haveria qualquer coação, tudo pertenceria a todos, e portanto, diziam, que aquele que possuísse uma propriedade cairia em pecado mortal. Este comunismo, de natureza cristã, era um comunismo de consumo, não de produção. Cada família trabalhava para si mesma, contribuindo com seu excedente à tesouraria geral.
Por D. Riazanov
A execução de Huss em janeiro desencadeou uma revolução na Boêmia. Todas as classes populares boêmias se levantaram contra o poder do Papa, por uma reforma da igreja, contra os alemães, e pela independência nacional. Nesta luta religiosa nacionalista as massas populares revelaram seu ódio social contra a classe dominante. Inicialmente, todas as classes da Boêmia lutaram em uníssono. O lema da luta envolvia a forma da comunhão. Os ritos da Igreja Católica cediam ao leigo apenas pão sagrado, privilegiando os sacerdotes com pão e vinho. As massas se levantaram contra todos os privilégios do clero exigindo igualdade na comunhão: O lema do movimento era "Um cálice para o leigo!" A nobreza se uniu ao movimento usando esta luta para tomar as terras da Igreja; -- o clero possuía cerca de um quarto de todo território do reino. A rica burguesia também viu nas guerras hussitas uma maneira de surrupiar as riquezas do clero e de apossar-se dos bens das cidades católicas alemãs (Kuttenberg, com suas famosas minas de prata, era um forte atrativo).
A nobreza e a rica burguesia boêmia que se uniram ao movimento hussita forjaram o partido moderado dos Calixtinos ou Utraquistos, cuja sede foi a cidade de Praga. Lado a lado com este movimento moderado, no entanto, existia também um núcleo revolucionário. Sua massa era formada por camponeses ansiosos pela posse da terra, especialmente depois da nobreza ter tomado a terra do clero. A classe média baixa das cidades e os proletários juntaram-se aos camponeses e concentraram-se nas cidades menores de Boêmia. Os elementos revolucionários mais tarde começaram a chamar-se como Taboritas que era o nome de seu centro militar e político, a cidade comunalista de Tabor. O movimento husita estava agora sob a direção de um grupo de comunalistas.
Em 1414, o povo expulsou o Rei Wenceslaus para fora de Praga, depois disso, os hereges começaram a migrar para a Boêmia vindos de todas as partes de Europa.
Os Begardos e os Valdenses encontraram na Boêmia um refúgio contra a perseguição. Os comunalistas se fortificaram em Tabor onde começaram sua propaganda. Disseram que o Milênio de Cristo tinha chegado, que ali já não haveria nem servos nem amos, e que o povo regressaria ao estado de inocência priminiva. Em cidades diversas, particularmente em Tabor, os rebeldes começaram a instalar centros comunalistas. A cidade de Tabor estava localizada na vizinhança das minas de ouro. O comércio e a fabricação floresceram ali.
Quando os comunalistas se estabeleceram em Tabor atraíram a grandes multidões. Diz-se que em apenas uma reunião juntaram cerca de 42.000 pessoas (22 de julho de 1419).
Houve entre os Taboritas alguns comunalistas extremados, que não permitiam concessões, e negavam a família. Os "irmãos e irmãs do livre espírito", chamados de adamitas. A maior parte dos habitantes de Tabor e os cavaleiros, sob a liderança de Zizka, empreenderam uma luta contra os adamitas.
A agremiação comunalista taborita foi surpreendentemente bem organizada. Enquanto comunidade militar alarmou aos príncipes alemães por muito tempo. Os Taboritas representaram o primeiro exército regular de que se tem registro, e foram os primeiros em usar artilharia em combate. O fato dos Taboritas pudessem manterem-se firmes durante quase uma geração é atribuído por seu atendimento à educação, pelo ordem e pela disciplina em sua comunidade. Tabor caiu devido, principalmente, a uma cisão entre os hussitas. Os Calixtinos moderados, após tomar a terra do clero, recusaram reconhecer a supremacia de Tabor. A guerra dos Taboritas contra o rei, o Papa, e toda Europa, não era do interesse da nobreza. Depois da vitória dos Taboritas em Tauss (1431), pareceu não haver inimigo capaz de derrotá-los. Apõs começarem as negociações entre os Calixtinos e o inimigo, resolveram convocar em Dieta todos os barões, cavaleiros, e representantes das cidades, para abordar um plano para uma organização estatal. A própria Tabor se viu dividida. A classe média baixa e o campesinado, indiferentes diante do programa comunalista, queriam paz. O comunismo do Tabor não era estável. Por não possuir uma base produção comunalista, a igualdade no modo de vida logo desapareceu. Tabor voltou a ter ricos e pobres.
O exército de Tabor estava permeado de "bandidos e oportunistas de todas as nações". Na medida em que os nobres começaram a recrutar soldados para uma guerra contra Tabor oferecendo condições melhores que a comunidade comunalista, a traição avançou nas bases do exército Taborita, provocando uma deserção massiva. Essa foi a razão da queda de Tabor. Em 30 de maio de 1434 os Taboritas sofreram sua derrota definitiva. Dos 18.000 soldados Taboritas, 13.000 morreram na batalha. Em 1437, viram-se forçados a assinar um tratado com Segismundo, que garantia a independência de Tabor. Era o fim da comunidade comunalista de Tabor.
*obs.: a palavra "comunista" foi traduzida como "comunalista" para evitar confusão com bolchevismo, capitalismo de estado, e suas variantes.
Publicação: Coletivo Periferia -- http//www.geocities.com/projetoperiferia
Autor: D. Riazanov - Nota explicativa das Guerras Camponesas na Alemanha 1847 mencionadas por F. Engels.
Fonte digital: http://www.galeon.com/ateneosant/Ateneo/Historia/arf-husitas.html
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Guerrilheiros taboritas
Tabor, situada na república Checa dos dias de hoje, foi fundada em 1420 pela ala mais radical do Hussitas, que logo ficou conhecida como Taboritas. A cidade tornou-se um ícone pelos anos florescentes enquanto comuna camponesa igualitária.
Mantidos economicamente por seu controle de minas de ouro locais, os cidadãos juntaram camponeses locais para desenvolver uma sociedade comunalista. Anunciaram o Milennium de Cristo e declararam que não mais haveriam servos nem senhores. Prometeram que os povos retornariam a um estado do inocencia pristina.
Os Taboritas
A teologia taborita representou um dos movimentos mais radicais contra a igreja medieval hierárquica. Rejeitaram a hipocrisia da igreja corrupta e insistiram no padrão qualitativo da autoridade biblica. Embora a teologia Taborita fosse baseada na teologia escolástica, foram um dos primeiros intelectuais a livrar-se dos séculos de cativeiro escolástico.
Os Taboritas foram particularmente zelosos em suas práticas religiosas, também de carater comunal. Praticaram uma economia comunalista, compartilhando alimentos e artigos de valor.
Alguns dos teólogos taboritas mais proeminentes foram Mikulas Biskupec de Pelhrimov e Prokop Veliký (morto na batalha de Lipany). As primeiras idéias teologicas radicais dos taboritas foram representadas por Petr Kanis e Martin Huska.
O exército guerilheiro de Tabor foi conduzido por Jan Zizka, general Boêmio cego que comandou seu exército popular contra o exército imperial do Imperador Sigismund.
O poder da comunidade era quebrantado, após vinte anos, com a batalha de Lipany em 30 de maio de 1434. Onde 13.000 dos 18.000 que compunham o exército foram mortos. Em 1437 assinaram um tratado com rei Checo Sigismund.
Fonte digital em inglês: http://www.infoshop.org/wiki/index.php/Past_and_present_anarchist_communities
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