A Brecha da Odebrecht ou a Privada Pública da Parceria Pública Privada
Em meados da década de 70 quando morava numa república de estudantes do Exército de Savação na Rua Taguá pude acompanhar de perto, desde o início, as obras do metro de São Paulo. Aquele leito da Avenida Liberdade, rasgado, parecia obra de um gigante louco, furioso, cortando com sua espada as principais artérias da cidade. Certo dia um dos meus colegas da República disse-me apavorado que iria abandonar tudo, estudo, trabalho, que iria naquele mesmo dia voltar para o Rio Grande do Sul.. Era técnico em contabilidade, trabalhava no Metrô e por acaso teve acesso a um documento importante. Tratava-se de um relatório onde aparecia em detalhes cifras monunentais de dinheiro público referente às obras do Metrô e que estavam sendo desviadas para determinadas pessoas. Estava tudo lá, carimbado, assinado, nomes de pessoas, valores. Eram documentos oficiais, mas secretos. A mulher de um alto executivo de uma empreiteira foi até a República chorando e implorando para que ele não dissesse nada a ninguém e fosse embora. Depois passou a ser perseguido e ameaçado de morte. Meu amigo largou tudo e foi embora. Daquele dia em diante, nunca mais soube dele.
Bem mais tarde em 1998, um dos CEOs da CBPO disse-me: "Aqui posso fazer tudo que eu quiser, menos dar prejuízo à empresa", depois soltou uma gargalhada. Isso me remeteu ao evento relacionado à fuga de meu amigo gaúcho 20 anos atrás.
A regra é sempre “responder aos efeitos perversos do Sistema através de soluções técnicas que aumentam a perversidade do Sistema”. “Tecniza-se” exageradamente; engendra-se um potencial infinito de problemas que serão chamados de “desajustes”; tenta-se, a cada fracasso, aplicar remédios sofisticados, os quais aumentam a nocividade do sistema. E chegamos ao ponto dramático onde “não se pode mais des-tecnizar”. Exemplos? Soluções “tecnizadas” para melhorar o problema da saturação de tráfego, a solução, nessa lógica, não é rever a expansão dos transportes rodoviários, fluviais, metroviários, aéreos, mas aumentá-los radicalmente.
As auto-estradas e os túneis estão saturados de caminhões. Os metrôs saturados de trens. O mar de navios. O céu de helicópteros e aviões. Seria necessário, para aliviar este tráfego, fazer com que os vales, montanhas, ares e mares voltassem a respirar. Regular, limitar, inverter a tendência. Seria necessário principalmente, de forma radical, questionar a louca expansão dos transportes rodoviários, ferroviários, aéreos, fluviais, por causa dos fluxos intensos...
Mas em vez disso, o que se faz? Novas auto-estradas são criadas, custosos túneis são perfurados, novas rotas aéreas são criadas, novos metrôs, e a demência do sistema é encorajada acreditando que estes sejam os remédios para estes “desajustes”.
"Crescimento econômico" significa crescimento da conta bancária de grandes empreiteiros.
"Progresso" significa destruir o que ainda resta de belo no planeta.
"Grandes obras públicas" significa grandes desvios de dinheiro público.
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