RAILTON'S NOT LIAR

"Compre coisas para uso, não para status. Rejeite aquilo que possa te viciar. Prefira doar a acumular. Recuse deixar-se influenciar pela propaganda. Aprenda apreciar coisas sem possuí-las. Aprecie mais a natureza. Desconfie dos que dizem: 'Compre agora, pague depois!' Quando disser algo, lembre-se dos preceitos de Cristo sobre lisura e honestidade. Rejeite qualquer coisa que provoque opressão em outras pessoas. Evite tudo aquilo que te desvia de teu principal objetivo". [Ética Quacre]

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Local: São Miguel Paulista, São Paulo, Brazil

25.12.06

Políticos profissionais acham que o povo é estúpido demais para a autogestão generalizada em uma sociedade livre

Muitas ideologias politicas assumem explícitamente que as pessoas comuns são demasiado estúpidas para serem capazes de gerir suas proprias vidas e sua sociedade. Em todos os ramos da agenda política capitalista, da esquerda à direita, há pessoas que fazem esta afirmação. Tanto os leninistas, como os fabianistas ou objetivistas, acreditam que apenas uns poucos eleitos são inteligentes e criativos e que estas pessoas devem governar aos demais. Geralmente, esse elitismo se esconde atras de uma retórica astuta sobre "liberdade", "democracia" e outros lugares comuns que os ideólogos usam para adormecer o senso crítico das pessoas dizendo o que elas querem ouvir.

Tampouco surpreende, naturalmente, que aqueles que crêem nas elites "naturais" sempre se auto-classifiquem enquanto topo. Não encontramos ainda nenhum "objetivista", por exemplo, que se considere parte da grande massa, dos "segunda categoria", enquanto gari no desconhecido "ideal" do capitalismo "real". Qualquer um deles, ao ler um texto elitista, considerará a si mesmo mais um desses "poucos eleitos".

Um exame da nossa historia demonstra que há uma ideologia elitista básica: a racionalização essencial de todos os estados e clases dominantes desde seu nascimento nos principios da Idade do Bronze. Esta ideologia simplemente muda de roupa, nunca de conteúdo interno básico.

Durante a Alta Idade Media, por exemplo, travestiu-se de cristianismo, adaptando-se às necessidades da hierarquia eclesiástica. O dogma "divinamente revelado" mais útil para a elite sacerdotal foi o do "pecado original": a idéia de que os seres humanos são basicamente criaturas depravadas e incompetentes, que necesitam ser "dirigidos desde cima", que tem os sacerdotes como convenientes e necessarios intermediarios entre os humanos ordinarios e "deus". A ideia de que as pessoas normais e simples são básicamente estúpidas e incapazes de governar a si mesmos é uma herança desta doutrina, é uma relíquia da Idade Média.

Para contestar àqueles que afirmam que a maioria das pessoas não é mais que gente de "segunda categoria", "zé povinho", e incapaz de desenvolver nada além da "conciência sindical", tudo o que podemos dizer é que tal afirmação é um absurdo e que não suporta nem mesmo uma revisão superficial da história, particularmente no que se refere ao movimento operário.

O poder criativo daqueles que lutam por liberdade são muitas vezes verdadeiramente surpreendentes, e se este potencial intelectual e esta inspiração não se evidencia na sociedade "normal", isso constitui a mais clara denúncia dos efeitos adormecedores da hierarquia e do conformismo produzidos pela autoridade.

"Você é o que faz. Se faz um trabalho chato, estúpido, monótono, o mais provavel é que acabe sendo chato, estúpido e monótono. O trabalho é uma explicação bem mais coerente da crescente cretinização que ocorre ao redor de nós do que esses mecanismos estupefacientes tão citados como a televisão e a educação. A pessoa que passa sua vida regimentada, guiada da escola para o trabalho, primeiro enjaulada pela familia e depois no asilo de velhos, está habituada à hierarquia e é psicologicamente escrava. Sua aptidão para a autonomia está tão atrofiada que seu medo à liberdade é uma de suas poucas fobias com fundamento real. Seu treinamento à obediencia no trabalho se transfere às familias que eles formam, reproduzindo desta maneira o sistema em diferentes maneiras, e se transfere à política, à cultura e tudo o mais. Uma vez drenada a vitalidade da pessoa no trabalho, provavelmente se submeterá à hierarquia e à especialização em tudo. Estão acostumados a isso". Indica Bob Black. [The Abolition of Work].

Quando os elitistas concebem a libertação, apenas lhes ocorre que esta seja concedida aos oprimidos por elites benévolas (os leninistas) ou estúpidas (os objetivistas). Não surpreende pois, que fracassem. Unicamente a auto-libertação pode produzir uma sociedade livre. Os efeitos deprimentes e distorcivos da autoridade só podem ser superados pela auto-atividade. Os escassos exemplos de tal auto-libertação provam que a maioria das pessoas, considerada incapaz de ser livre, está muito bem disposta para a luta.

Os que proclamam sua "superioridade" muitas vezes o fazem por medo de que sua autoridade e seu poder seja destruído uma vez que as pessoas se libertem da mão débil da autoridade e chegue a dar-se conta de que, segundo Max Stirner, "os grandes só o são porque estamos de joelhos".

Como aponta Emma Goldman acerca da igualdade das mulheres, "as extraordinarias conquistas das mulheres em todos os aspectos da vida silenciaram para sempre a falácia da inferioridade feminina. Os que ainda se agarram a este fetiche o fazem porque o que mais odeiam é ver sua autoridade entre as pernas. Esta é uma característica de toda autoridade, seja ela do patrão sobre o escravo econômico ou a do homem sobre a mulher. Não obstante, a mulher escapa de sua jaula e segue adiante com passos livres, largos."

Os mesmos comentários podem aplicar-se, por exemplo, aos formidáveis experimentos bem sucedidos de auto-gestão operária durante a Revolução Espanhola. Citando Rousseau: "quando vejo multidões de selvagens totalmente desnudos depreciar a voluptuosidade européia e suportar fome, fogo, espada e morte unicamente para preservar sua independencia, penso que não cabe a escravos discorrer sobre a liberdade" [citado por Noam Chomsky, Red and Black Revolution, número 2].

http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secA2.htm
http://www.kehuelga.org/stream.m3u