RAILTON'S NOT LIAR

"Compre coisas para uso, não para status. Rejeite aquilo que possa te viciar. Prefira doar a acumular. Recuse deixar-se influenciar pela propaganda. Aprenda apreciar coisas sem possuí-las. Aprecie mais a natureza. Desconfie dos que dizem: 'Compre agora, pague depois!' Quando disser algo, lembre-se dos preceitos de Cristo sobre lisura e honestidade. Rejeite qualquer coisa que provoque opressão em outras pessoas. Evite tudo aquilo que te desvia de teu principal objetivo". [Ética Quacre]

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Local: São Miguel Paulista, São Paulo, Brazil

27.11.06

O deslinde oaxaquenho

Das muralhas de aço do corredor da morte do Estado da Pensilvânia, Mumia Abu-Jamal alerta que o exemplo de Oaxaca, da APPO, dos zapatistas, se espalha como vento, trazendo ar fresco à resistência popular em toda América Latina (1). Raoul Vanegeim, por sua vez, em seu chamado à autonomia individual e coletiva (2) declara que o que se esboça em Oaxaca está na linha de continuidade da Comuna de Paris e das coletividades andaluzas, catalãs e aragonesas criadas durante a revolução espanhola de 1936-1938, onde a experiência autogestiva estabeleceu as bases de uma nova sociedade.

Na contramão desse renascimento histórico, o governo mexicano mobiliza o navio de guerra Usumacinta, 1500 marinheiros, 20 helicópteros M-18 e M-17, aviões Hércules e C-12, além de vários tanques, forças especiais do exército, polícia federal preventiva (PFP), paramilitares, e inúmeros helicópteros e aviões que aterrorizam a capital do Estado, o centro histórico e edifícios ocupados pelos "rebeldes". Apesar da brutal repressão às 1.500 barricadas pacíficas erguidas na capital (3 mil em todo o estado), e à ocupação popular que chegou a envolver 80 prédios públicos e 12 estações de rádio e televisão (3). Apesar de tudo, Oaxaca continua resistindo.

Todo esse panorama deixa claro alguns aspectos importantes:

- Nenhum governo no mundo, mesmo os chamados de esquerda emitiram qualquer nota de repúdio a essa guerra voltada contra o desarmado e indefeso povo oaxaquenho.

- A midia mercantil nacional ou internacional quando não silencia, justifica e repercute a versão da repressão mexicana sobre "violentas" manifestações contra o governo.

- Esquadrões da morte, corrupção governamental, mercantilização do meio ambiente, baixos salários, aumento da criminalidade, baixa qualidade nos serviços públicos de educação, saúde, transporte, multidões de despossuídos, militarismo, repressão aos movimentos populares (pobres, negros, índios, estudantes, etc.), não são atributos exclusivos da sociedade oaxaquenha, são a marca registrada de nosso tempo, particularmente do Brasil.

- Os governos de direita ou esquerda, a mídia mercantil, os donos do capital, os partidos (direita ou esquerda), os sindicatos oficiais (caixa de ressonância dos partidos) que compõem a canalhocracia (democracia burguesa), todos eles dissimuladamente ou não estão posicionados de um lado. Do outro lado da linha estamos nós, a esmagadora maioria, a população, alguns conscientes, muitos infelizmente embebedados pelo faz-de-conta do espetáculo, pela não vida.

Diante do exposto não resta outra alternativa àqueles que almejam a instauração da verdadeira democracia e de uma vida digna senão tomar o mesmo caminho da resistência pacífica oaxaquenha,

- pela ereção contínua de barricadas locais;
- pelo não reconhecimento dos governos atualmente constituídos, fruto exclusivo de propaganda manipulatória e milionárias campanhas publicitárias;
- pelo repúdio a todos os órgãos de repressão, instrumentos da violência criados originalmente para a preservação desta sociedade de classes;
- pelo total descrédito e rechaço aos meios mercantis de comunicação.
- pela constituição de assembléias populares locais para determinar e implementar ações de resistência.


(1) http://not-liar.blogspot.com/2006/11/o-caminho-desde-oaxaca.html
(2) http://not-liar.blogspot.com/2006/11/chamado-autonomia-individual-e.html
(3) http://diplo.uol.com.br/2006-11,a1447