RAILTON'S NOT LIAR

"Compre coisas para uso, não para status. Rejeite aquilo que possa te viciar. Prefira doar a acumular. Recuse deixar-se influenciar pela propaganda. Aprenda apreciar coisas sem possuí-las. Aprecie mais a natureza. Desconfie dos que dizem: 'Compre agora, pague depois!' Quando disser algo, lembre-se dos preceitos de Cristo sobre lisura e honestidade. Rejeite qualquer coisa que provoque opressão em outras pessoas. Evite tudo aquilo que te desvia de teu principal objetivo". [Ética Quacre]

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Local: São Miguel Paulista, São Paulo, Brazil

26.11.06

Chamado à autonomia individual e coletiva

Por Raoul Vanegeim (Tradução: Coletivo Periferia)

CONSIDERANDO que os habitantes de Oaxaca têm direito de viver conforme seus desejos, em suas respectivas cidades e regiões.

CONSIDERANDO que são vítimas de uma agressão brutal de policiais, militares e esquadrões da morte a mando de um governador e governo corruptos cuja autoridade não é reconhecida.

CONSIDERANDO que o direito de viver dos habitantes de Oaxaca é um direito legítimo e que as forças de ocupação e repressão estão na ilegalidade.

CONSIDERANDO que a resistência massiva e pacífica da população de Oaxaca testemunha sua resolução de não ceder ante a ameaça, o medo, a opressão, bem como sua vontade de não responder à violência dos policiais e dos assassinos paramilitares com uma violência que justificaria a obra de sofrimento e morte realizada pelos inimigos da vida.

CONSIDERANDO que a luta do povo de Oaxaca é a luta de milhões de seres reivindicando o direito de viver humanamente e não como animais, num mundo em que todas as formas de vida são ameaçadas por interesses financeiros, pela lei do lucro, pelas máfias dos negócios, pelo mercantilismo dos recursos naturais, água, terra, espécies vegetais e animais, da mulher, juventude e do homem, escravizados todos em seus corpos e em sua consciência.

CONSIDERANDO que a luta global empreendida em nome da vida e na contramão da influência totalitária da mercadoria pode evitar que o povo de Oaxaca caia na desesperança que serve sempre e fielmente ao poder, paralisando o pensamento, despojando-nos da auto-confiança e obstaculizando a faculdade de imaginar e de criar soluções novas e novas formas de luta.

CONSIDERANDO que a solidariedade internacional frequentemente se contenta com jargões emocionais, discursos humanitários e declarações ocas, que só encontram satisfação na fatuidade do orador.

PROPONHO que um respaldo prático seja dado às assembléias populares de Oaxaca a fim de que o que não é ainda uma comuna possa chegar a sê-lo. O que se esboça em Oaxaca se situa na linha de continuidade da Comuna de Paris e das coletividades andaluzas, catalãs e aragonesas criadas durante a revolução espanhola de 1936-1938, onde a experiência autogestiva estabeleceu as bases de uma nova sociedade.

Para isso, apelo à criatividade de cada um a fim de que sejam abordadas as questões que, sem prejuízo de sua pertinência nem de sua relevância, devam aparecer, com razão ou sem ela, na constituição de um governo do povo para o povo, isto é, de uma democracia direta na qual as reivindicações individuais sejam consideradas, examinadas desde o ângulo de uma eventual harmonização e dotadas de um reconhecimento coletivo que permita sua satisfação:

- É possível e desejável que os familiares das vítimas da repressão e da ocupação policialesca levantem uma demanda contra o governo e contra as instâncias responsáveis pelos assassinatos e pela violência?

- Como garantir-lhes apoio internacional?

- Como impedir os encarceramentos, a ação dos paramilitares e garantir que a região se liberte das mãos ensangüentadas dos corruptos?

- Além do sobressalto de indignação suscitado pela barbárie policialesca e mafiosa, como ajudar a população de Oaxaca a dar garantias efetivas à aspiração expressa de que não mais querem estar a mercê de nenhuma violência?

- Como atuar de maneira que nenhuma opressão seja exercida contra o direito de viver dos indivíduos e coletividades unidas em defesa deste direito universal?

- Que respaldo pode fornecer a solidariedade internacional à resistência civil de Oaxaca de maneira que esta resistência civil simplesmente adquira a legitimidade de um povo para governar-se a si mesmo mediante o recurso da democracia direta?

E numa perspectiva de médio prazo:

- Se ela o desejar, como podemos colaborar com a comuna de Oaxaca na organização do abastecimento de alimentos e bens de utilidade individual e coletiva?

- Como podemos ajudar as assembléias populares para que elas mesmas e sem intervenção dos poderes "de cima" realizem a gestão dos transportes, dos serviços de saúde, do abastecimento de água, de eletricidade, etc.?

- Que aporte internacional pode ser dado ao projeto de "educação alternativa" que, depois da longa greve dos professores, busca-se em Oaxaca?

- Existe alguma entidade científica que possa facilitar o desenvolvimento de energias naturais e não contaminantes na região de Oaxaca?

O objetivo seria duplo. Por uma parte, evitar que estas energias sejam implantadas autoritariamente em benefício do Estado e das multinacionais, como sucedeu no Istmo. Por outra parte, recordar que para nós, a preocupação energética e ambiental só faz sentido em sua relação com a autogestão, pois só neste contexto as novas fontes de energia estariam ao serviço de comunidades autogeridas. As energias naturais e não contaminantes permitem não só a independência das máfias petroleiras e tecnológicas, como cambém instaurar pouco a pouco a gratuidade que seu caráter renovável e sua fonte inesgotável garantem, uma vez cobertos os custos do investimento. E esta idéia da gratuidade das energias, implica, por sua vez, na gratuidade dos meios de transporte, de saúde, de educação, é, além de ser uma arma absoluta contra a tirania mercantil, a melhor fiadora de nossa riqueza humana.

Cada vez que uma revolução despreza considerar como seu objetivo prioritário a tarefa de enriquecer a vida cotidiana de todos, dá armas à repressão.

Fonte digital: http://www.jornada.unam.mx/2006/11/11/index.php?section=opinion&article=014a1pol